NOTURNO

NOTURNO

Meu violino é friamente deus de cordas ácidas

lacerando tochas de prece

na queda cinza da madrugada

vôa em meus olhos

a convulsão cromática do abismo

a entreteço azul

Pela vertigem destes dedos

contorcendo a rubra loucura das cordas,

vibra na alma de meus nervos

a agulha líquida de todas as fontes,

que derramam asas de vozes em labareda.

Minhas mãos nasceram da orquestração de gargalhadas imersas,

num lago onde amoldo marulho em vermelho,

num instante, pelo capricho da vertigem entre dedos

modulo Deus à minha imagem

e o domínio na fuga do infinito

e esmago estrelas

e relevo gritos

na dissonância integral dos incêndios

Meu Deus!

Só não consigo destruir

o motoperpétuo de meu desêspero!

Glácia Daibert

GLÁCIA DAIBERT
Enviado por GLÁCIA DAIBERT em 28/06/2005
Código do texto: T28876