...Caminhar é preciso!

- "Hoje é diferente. Não sou apenas eu, pois agora tenho um passarinho para tratar!" 
   Foi assim que a tristeza  exteriorizou-se daquele coração que  sangrava.
     As lágrimas ficaram contidas dentro de mim. Não era momento para chorar. Aquele ser tão fragilizado necessitava do meu ombro para suportar a dor que, sem pedir licença, entrou em sua vida.
     É... as pessoas provocam essas dores porque conjugam “verbos intransitivos”, pela fala e pela atitude. Elas acreditam nunca precisar do outro e nem desejam saber a razão, mas é preciso saber por quê.!? 
     Uma resposta pode vir de vários segmentos reflexivos, porém, na hora da dor extrema nenhuma delas parece nos ajudar a caminhar, seguir em frente, sem saber ao certo o rumo da estrada.
     Na verdade a estrada não importa, caminhar é que importa.
     Chorando, sofrendo, sangrando, mas sempre caminhando.
     Em todo caminho há...
     prantos e sorrisos,
     vales e montanhas,
     secas e riachos.
     Em toda estrada há seres humanos assombrosos e assombradores! 
     Certa vez Jesus estava visitando uma família e alguns homens subiram no telhado da casa em que Ele se encontrava carregando um amigo doente e desceram-no pela fresta que abriram para que, estando diante de Cristo, fosse curado.
     Era a única maneira de achegá-lo ao Mestre tendo em vista que a multidão os impedia de entrar pela porta. 
     Amo essa mensagem.
     Ela me fala de compromisso, de lealdade, de disposição para amar e servir ao próximo em qualquer situação.
     Ela me ensina que o amor deve gerar ações solidárias. 
     Subir no telhado foi, a parte mais fácil para aquele pequeno grupo, a reta final indicando que venceram o caminho, cumpriu-se a jornada. 
     Sempre que leio essa passagem bíblica fico a indagar:
- Qual o tamanho do percurso feito?
- Quais as condições de tempo naquele dia? - Quantas vezes pararam para descansar ou para atender as necessidades daquele homem doente?
- O que conversaram durante a caminhada?
- Levaram algum alimento para suportarem o peso da empreitada?
- Haveria um riacho no caminho para matar-lhes a sede? 
     Caminhar sozinho parece mais fácil do que adequar os passos com os outros que conosco vão pela estrada.
     Compartilhar o caminho é uma tarefa que requer sensibilidade e profunda significação da solidariedade humana.      
     Aquele pequeno grupo de homens solidários não estava preocupado se aquele homem doente seria merecedor de todo aquele esforço.
     E quase ouso intuir que talvez não fosse...
     Jesus, após ordenar que aquele homem doente se levantasse da cama ainda lhe agraciou com o perdão dos pecados. 
     Eis a razão da minha ousada intuição...ninguém é santo na acepção da palavra!
     Também, a solidariedade humana não requer a perfeição do outro para ser praticada.
     Se assim fosse, ela perderia a sua essencialidade pois, ninguém é perfeito.
O que não significa que não devemos nos aprimorar, contudo, sem perder de vista que somos seres humanos em plena construção existencial.
     E como nos esquecemos disto, durante a caminhada terrena, diante da ilusão transitória do poder, ou frente à tomada de decisões que envolvem nossos pares humanos.
     Feliz quem sabe que o poder corrompe. Infeliz quem, por ele, deixa-se corromper.     
Esses... não sabem contornar as pedras... Atiram-nas!
Não trilham em montanhas... Contornam-as. Não apreciam o riacho.. Secam-no.
Não lançam sorrisos... Detonam lágrimas.
     Aquele pequeno grupo se esforçava para buscar a concretude do milagre àquele homem doente embuidos da solidariedade humana que não impõe condição alguma e não dita regra pessoal.
     Ela, apenas quer se revelar para dar significado amoroso ao grande gesto do existir.
     A solidariedade agrega. Nunca exclui. Acolhe. Nunca abandona. Cura. Nunca fere.      A solidariedade jamais turva a fonte de água viva que jorra dentro de cada um de nós. 
     E, por fim, chorei silente porque também tenho "um passarinho para tratar".    
      Filhos benditos a nos fazer caminhar!



Liliane Prado
(Exercício Poético)

 
Liliane Prado
Enviado por Liliane Prado em 09/05/2011
Reeditado em 03/07/2012
Código do texto: T2958082
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