Eu não vou saber me acostumar...

Esse refrão soa, ressoa...

Retumba, ecoa em meu interior nos últimos dias!

Como acordarei segunda-feira sem tuas pisadas fortes no assoalho?

Como irei para o trabalho sem o carinho do teu beijo pela manhã?

Que sabor terá meu almoço sem o tempero do teu sorriso maroto ou do teu ranço, quando o cardápio não saiu do teu gosto?

E ao cair da tarde, que preocupação terei, se a demora de tua chegada não terá fim?

Para quem resmungarei a demora do banho que não haverá?

Ah, filho será que eu vou saber me acostumar?

O que sente um coração de mãe quando o filho está prestes a partir? Partir?

Partir de ir embora, partir de sair?

Ou partir de romper, cortar, ferir?

Partir de ir embora, partir do seu lar.

Partir de cortar, partir de ferir o colo,

Partir de ferir o ventre, até sangrar o sentir...

Filho!

A mesma voz que entusiasmada te diz: vás, sejas feliz!

Sussurra baixinho em minh'alma: como dói esse filho voar...

Vai filho,

Não importa, se minh'alma chora.

Importa que cresças, que realizes teus sonhos, que sejas feliz!

Embora a razão me diga, que bom ele conseguiu! Construiu um maravilhoso caminho! E aplauda tuas conquistas...

A emoção me desestabiliza e, incessantemente, em meu pensar assopra, é agora que o cordão umbelical realmente se corta!

E isso dói filho!

É como a poda, o tronco que perde o broto, sangra!

Somente agora, compreendo e sinto, o que sente a águia ao jogar o filhote do precipício.

Não é vã metáfora!

Ao ciclo da vida, genuinamente necessário!

Certamente, sangra o coração da mãe-águia!

Mas... não importa filho! Vás e sejas feliz!

Não és parte do meu corpo! Tampouco extensão do meu ser!

És um ser completo e lindo! Adulto, autônomo, um homem!

Que a luz divina te proteja e, inda que meus olhos marejem, segue filho!

Não olhes para trás, para que meu olhar não te prenda, quiçá minhas lágrimas te comovam...

Vás e sejas feliz, muito feliz!

Mereces, e eu te amo, por seres como és e teres me dado tanto amor e felicidade nesses vinte e sete anos, acrescidos do tempo em que fomos apenas um...

Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 05/10/2011
Reeditado em 06/10/2011
Código do texto: T3260148
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.