O deus do ridículo.

Rei Momo, o famoso personagem de nosso carnaval, deriva da mitologia grega. Momo, ou Momus, era o deus do ridículo. Mordaz, irreverente e atrevido, criticava Zeus – o deus dos deuses - , por não ter criado uma janela no peito humano onde se pudesse ver os sentimentos.

Sua petulância lhe rendeu a expulsão do Olimpo, morada dos deuses.

Zeus, o soberano deus grego, não conseguiu conviver com Momus, e ao receber criticas sistemáticas, tratou de desalojar do Olimpo aquele que se opunha a suas idéias.

É mesmo complicado, caro leitor, relacionar-se com quem não nutre simpatia por nossa figura.

Como confiar em alguém que sabemos não sentir afeição por nós?

Porém, forçoso admitir, que em nossa vida, não trocamos experiências apenas com quem nos ama, ao contrário, muitas vezes estamos inseridos dentro de um ambiente onde não somos bem aceitos, no entanto, à vida, de uma forma ou outra, nos impele a ter esse contato.

E à natureza, em sua sabedoria, nos oculta sentimentos e pensamentos alheios, por saber que ainda não somos capazes de conviver tranqüilamente com adversários sentimentais.

Será que teríamos condições de manter a serenidade, se, por exemplo, fôssemos forçados a conviver com alguém que não nos aprecia, e lêssemos em suas fibras íntimas com toda nitidez esses sentimentos?

Através da lei das afinidades, conseguimos captar onde somos mais ou menos queridos, isso é verdade, contudo, daí a ver e saber com toda clareza à antipatia que este ou aquele mantém por nós, vai uma grande distância.

O ideal, seria que nos preocupássemos apenas com nossos sentimentos e pensamentos em relação ao semelhante.

Todavia, ainda nos guiamos pelo sentimento que os outros nutrem em relação à nós.

Se gostam de mim, gosto também.

Se me tratam bem, retribuo o bom tratamento.

É a antiga cultura do olho por olho, dente por dente.

Apenas criaturas com o senso moral mais desenvolvido, conseguem manter a serenidade e tranqüilidade diante daquele que lhe atira pedra.

Amadurecidas, já são senhoras de suas atitudes. Sem importarem-se com os sentimentos que o mundo tem em relação a elas, preocupam-se com o sentimento que elas têm em relação ao mundo.

Amam mesmo quando não são amadas, tratam com afeição mesmo quando são espezinhadas.

Diferente de Zeus, o eminente médico e político, que viveu na transição do século IXX para o século XX, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, se constitui em uma dessas figuras, que amam mesmo quando são criticadas.

O chamado médico dos pobres, político de ilibada reputação, mesmo criticado por seus opositores da política, que não conseguiam compreender suas idéias voltadas ao bem coletivo, amou a todos, dedicando grande parte de sua existência à socorrer os aflitos de todos os matizes, independente se lhe admiravam ou não.

Assim são as criaturas amadurecidas, amam sem se importar se são ou não amadas, sentem-se realizadas ao fazer o bem desinteressadamente.

Nós também atingiremos esse patamar, cedo ou tarde, seremos senhores de nossas atitudes, amando e servindo, independente se somos ou não queridos, pois, lembrando o inesquecível Francisco de Assis, é melhor Amar que ser Amado, Melhor compreender que ser compreendido, porque é dando que se recebe, e é perdoando que se é perdoado.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 30/12/2006
Código do texto: T331953