Um novo amanhecer

Por que acordar tão cedo? O sono ainda era grande, o quarto aconchegante e o amado ao meu lado, encaixado em conchinha me deixavam mais preguiçosa. Olhei o relógio, as horas voavam... falei para mim mesma: Só mais cinco minutos, mas em dois decidi levantar. Esse horário de verão havia me pegado de jeito.

Resolvi me espreguiçar e sair da cama sem fazer barulho, o meu querido mesmo dormindo, me segurou pela cintura, fiquei quieta uns segundos, retirei sua mão, ele continuou a dormir e deslizei para fora da cama, o tempo, ah, o tempo, eu não poderia mais ficar ali no quentinho, dentro de duas horas estaria voando para muito longe, minha Belém do Pará. Lembrei de um trecho de música que diz: “Belém, Belém, será que está tudo bem? (acho que já escrevi algo assim). Pois então, estaria indo encontrar com as filhas e agora, também com a primeira neta, passaria as férias junto a esse meu povo que tanto amo!

Enquanto aguardava a água do café ferver, fui até o jardim da casa, o silêncio pairava no final da madrugada, o sol ainda tímido, tentava desbravar as nuvens que teimavam em escondê-lo, aspirei o ar. Olhei as horas. Cinco da manhã, a rua estava deserta. Fui organizar a mesa do café. Tomei banho, chamei o meu marido e segui para aprontar-me para a viagem.

Depois de arrumados, fizemos uma prece agradecendo pela noite e pelo dia que estava nascendo, tomamos o nosso café juntos,como sempre fazemos e saímos sem pressa, conversando e ouvindo uma música suave que tocava na rádio. Meus olhos atentos buscavam as pessoas que encontrávamos pelo caminho, alguns corriam e se exercitavam pelas calçadas, operários subiam em caminhões que os levaria até o trabalho, mendigos e moradores de rua se encolhiam para dormirem um pouco mais, um rapaz com a sua gaiola caminhava devagar para não assustar o Curió que tímido, não queria cantar, um carro que “morreu” à nossa frente, uma via fechada pelos trabalhadores que recapavam a avenida... enfim, tudo isso acontecendo nas primeiras horas da manhã, senti-me revigorada, a preguiça ficou totalmente para trás, eu queria mais era aproveitar o dia, os poucos momentos pertinho de Pedro, que não seguiria comigo dessa vez, falamos da saudade de quem fica e também de quem parte, eu, talvez não sinta tanto porque estarei entre amigos e família que não vejo sempre, por conta da distância, mas tenho certeza que quando a noite chegar eu a sentirei mais forte, não terei a conchinha e os abraços e beijos cheios de amor e paixão, mas o tempo, ah o tempo também é parceiro, logo mais será novembro e retornarei para os braços e abraços do meu querido.

Aeroporto à vista, um aperto mais forte na perna do meu amor, já sinto saudade, mas a grande prova do que sentimos é saber que não importa a distância, sempre teremos um ao outro.

Embarquei e ele voltou para casa, iria antes à feira comprar um pássaro para juntar aos três que já possuímos soltos pela casa, eles nos fazem companhia e são engraçados, independentes, mas gostamos de tê-los por perto.

De dentro do avião, liguei para falar com Pedro, ele me falou chorando que estava sentindo a minha falta, sorri e disse que eu também, mas que logo mais estaria chegando. Ao desembarcar em São Paulo, liguei o celular e ele ligou para falar que estava me monitorando, que “estava de olho nos meus movimentos... rimos juntos.

Resolvi então registrar tudo isso. Pedro tem sido uma presença muito estimulante em minha vida, somos parceiros, amigos, amantes, companheiros em todos os momentos. Amamos viajar, quando ele sugere, eu já digo sim, quando eu convido ele prontamente atende, assim, temos conhecido vários lugares a bordo do nosso “Doblô” , da cor do meu time Flamengo mas com alma Fluminense, como o Pedro fala. Não importa que eu seja rubro negro e ele tricolor, que eu coma carne vermelha e ele só soja e carne branca, que eu curta Forró na Feira de São Cristovão e ele, me acompanha pelo prazer de minha companhia, o segredo desses anos juntos serem especiais é que nos respeitamos e gostamos de estar juntos. Andamos na chuva somente pelo prazer de sentir os pingos baterem em nossos corpos, enfrentamos fila toda segunda-feira para assistir a shows promovidos pelo PALCO MPB mesmo que seja de artistas desconhecidos, caminhamos pela LAPA em meio aos burburinhos, vamos à praia a noite para sentir o vento e olhar os pescadores na Pedra do Leme, fazemos trilha por vários morros, assistimos TV juntinhos, enquanto ele lança informações em planilhas em eu leio meus vários livros, enfim, quando amamos, todas essas coisas são preciosas, inesquecíveis.

Posso dizer que já era feliz antes de conhecer o Pedro, após, sou ainda muito mais. A vida é rápida, muitas vezes ficamos “dormindo” enquanto ela passa, hoje quero mais correr atrás dela e de forma literal. Quero cumprir uma promessa que fiz para nós dois, três vezes na semana sairmos a andar de bicicleta bem cedinho, sem pressa, para encontrarmos o sol que decidiu empurrar carinhosamente as nuvens para o lado para enfim, desfilar desvairado na paulicéia da vida, fazendo piruetas para quem o vir nascer.

Obrigada pelo prazer de viver um novo amanhecer.