A PANTERA SURGIU EXPONTANEAMENTE

A Cecilia Meirelles dizia:

"Deixar-se cortar, para voltar por inteiro"...

Acho que ontem fui cortado, e voltei por inteiro...

Vejamos:..

Era uma casa grande e quadrada.

Entrei num quarto, no sentido sul, não muito grande, nem acanhado.

Existiam duas camas de ferro, com estrado de molas, na cor vermelho-ocre, dispostas num formato “L” invertido.

Sentei-me na que formava a “linha do L”, e logo percebi que embaixo da outra cama, a que formava a “cabeça invertida do L”, tinha uma Pantera. Era um lindo gato de cor caramelo, aprisionado numa bexiga gigante.

Ela brincava dentro da “bola”. Fazia todos os tipos de gracejos para mim! Rolava, abria a boca e mostrava os dentes; batia as patas como se estivesse me chamando; movimentava-se e nesse jogo foi saindo de debaixo da cama.

No começo tive medo! Assim como ela, eu era jovem, criança, tinha uns dez anos.

O meu aspecto era de um menino de origem humilde. O meu medo era limitado. Não senti pavor, disso tenho certeza. Como certeza também tenho que estávamos em processo gestatório.

Em determinado momento senti algo sobre o meu pé direito, e quando olhei, era a pata da minha “amiga” que estava sobre o meu pé. Naquele momento, senti um medo danado; pulei, fiquei de pé e me agarrei a uma almofada.

Ela também ficou de pé, e assim como eu, já adulta. Pulou magnificamente sobre mim, abocanhou a almofada e voamos. Fomos parar num outro cômodo, um quarto maior, no sentido oeste; ela passou por uma janela aberta e eu fiquei do lado de dentro, agarrado na almofada e flutuando.

Da mesma forma que a Pantera, a minha cadela Lily surgiu e também passou pela janela.

Eu, bem...! eu fiquei ali flutuando!

Depois coloquei meio corpo para fora da janela e pude observar que a Lily estava com a pantera.

As duas conversavam amistosamente, e em perfeita harmonia se misturavam!

A cor negra da Lily, naquela brincadeira de cão e felino passou para a pantera.

Quando aquilo aconteceu, um novo encantamento surgiu, e eu que até aquele instante era o único ser humano na sena, passei a gritar o nome da minha esposa.

Quando ela surgiu no quarto, calma e confiante, fui atirado numa cama de casal e me transformei - metade homem, e metade felino -.

Já num outro cômodo, sentido norte, uma espécie de cozinha, a Jô, em pé e de costas para mim, fazendo algo para se comer, quero crer. Do meu lado direito estava o meu Pai Bidú, sentado num banquinho de madeira.

Ninguém fala. estavámos todos calados...

De repente, embaixo do meu tamborete surgiu à pantera toda brincalhona, rolando pra-lá-e-pra-cá e batendo com as patas nas minhas pernas.

Quando quis senti medo, ela disse:

“Não tenha medo, sou eu";

"A gente foi criado juntos!”

"Lembra-se de mim lá"? E a conversa prosseguiu.

Nem o meu pai, nem a Jô, minha esposa, se intrometeram, era como se a Pantera não estivesse ali.

Olhei para a Lily e esta estava deitada na porta.

Como não estava em posição de ataque, relaxei.

A pantera continuou falando, até que surgiu uma moça, me deu um beijo e o encantamento foi quebrado de vez...

Acordei!