Um anjo de verdade.

Hoje me levantei e resolvi passear pelo campo. Montei meu cavalo e sai a galopar.
Parei a beira do rio desci, coloquei meus pés dentro da água e comecei a caminhar.
Foi então que junto ao rochedo encontrei uma menina com rosto angelical, cabelos cacheados e dourados enfeitados com um laço de fita e vestida toda de branco. Olhei ao redor, não vendo ninguém perguntei:

- Estas só?
-Não.
-Mas aqui nos encontramos apenas eu e você.

A menina sorridente respondeu:

-Olhe bem onde estás.

Por mais que eu olhasse, via apenas a água límpida, flores do campo, árvores e pássaros. Inquieta questionei:

-Não vejo ninguém além de nós.

Ela veio até mim, calmamente segurou minhas mãos, puxando-me para juntas sentarmos ali.
A água por baixo dos pés, o vento sussurrante trazia-me a sensação calma e refrescante. Carinhosamente aquela menina começou a me explicar:

-Essa noite fui acordada com um choro inquieto, mas dele não saíam lágrimas, chorava-se na alma. Foi então que escutei a indagação:“ Por que vivo tão só? Quanta dor...”

Olhando fixamente em meus olhos me perguntou:

-Conheces esse tormento?

As palavras me faltaram, pois durante a noite fora assim que me sentira.
Ela insistiu:

- Conheces?

Entre lágrimas desta vez real, respondi que sim.
A menina tão doce, passou suas mãos pequenas em minha face e começou a explicar:

-Minha querida, quando eras ainda criança,sua mãe te ensinou a rezar assim: “ Meu anjinho da guarda, meu bom amiguinho, me leve sempre para um bom caminho.”
E você nunca se esqueceu de tal oração. Hoje senti sua dor e desci à Terra para lhe mostrar que não estas só, que colocamos anjos sem asas para te acompanhar. Conhecestes a pouco alguém que tens te mostrado o verdadeiro sentido da vida, o grande mistério do amor. Apaixonou-se por ele e ele por você. Não se sinta mais só, além de mim, existem aqui mesmo os anjos que enviei.

Levantou-se, caminhando pelos prados desapareceu.
Ainda extasiada pude compreender que o anjo de quem ela falava era você, que me trouxe novamente a primavera e o riso em meu rosto a muito já perdido.