Ainda a mágoa e os aborrecimentos...

Rafael palestrava em respeitável instituição religiosa. O tema do assunto abordado era ainda os aborrecimentos e as mágoas que muitos carregam a carcomer o coração.

Como gostava de interagir com o público, convidou algumas pessoas da platéia para escrever no quadro o que mais as aborreciam.

As respostas foram dadas nesta ordem:

1º Infidelidade

2º Ingratidão

3º Corrupção

4º Falta de pontualidade

5º Os próprios maus pensamentos que teimam em permanecer.

Por isso, raciocinemos em torno das respostas que as pessoas deram aos fatos que mais as aborreciam. Como podemos ver, a maioria deles não reside nelas próprias, mas sim, nos outros. E se a questão não tem morada em nosso comportamento certamente não depende mais de nós, então, raciocinando friamente, perguntamos: como podemos nos aborrecer com comportamentos que não nos pertencem?

Há medidas que podemos adotar para equacionar essas questões, e nos livrar desses fantasmas íntimos que muitas vezes nos fazem perder até o sono.

1º Diante da infidelidade: ao saber do acontecido, natural o aborrecimento, todavia, muito melhor adotar a postura do diálogo para saber as razões da infidelidade do cônjuge do que se trancar em um mutismo infrutífero, ou descambar para a violência verbal e física, que fatalmente acarretará cada vez mais o afastamento um do outro. O segredo está em colocar as “cartas na mesa”, e se ainda houver a possibilidade de reconciliação, buscá-la de maneira sincera, dialogando para saber os motivos que o levaram a infidelidade, revendo conceitos e procurando alternativas para que a relação possa se restabelecer em bases de confiança e apoio mútuo. Se for constatada a falência do relacionamento, o melhor a fazer é procurar seguir adiante, sem alimentar mágoas e idéias negativas referentes ao antigo companheiro, porque estas apenas nos encarcerarão nos porões da mágoa, nos impedindo inclusive de iniciar novos relacionamentos.

2º Diante da ingratidão: só se aborrece diante da ingratidão quem faz pensando em receber algo em troca, seja agradecimentos, elogios, gratidão, ou mesmo bens materiais. A vida através de suas leis perfeitas, como a de ação e reação, se encarrega de nos premiar quando fazemos ou não o Bem à alguém ou a nós mesmos, estejamos certos disso, façamos a parte que nos compete e sigamos em frente, sem esperar elogios e agradecimentos de quem quer que seja, porque assim iremos além de treinar a caridade desinteressada, nos livraremos de constrangimentos que em nada nos auxiliam.

3º Diante da corrupção: ora, aquele que lesa alguém, a sociedade, seu país, sua família, o meio ambiente ou a instituição profissional ou religiosa a que está vinculado, grava na própria consciência faltas que terá de reparar mais cedo ou mais tarde perante a vida, portanto, inútil nos aborrecermos com a corrupção dos outros, o que de forma alguma quer dizer que temos de ser passivos e aceitar. A manifestação deve existir, contudo, deve ser baseada na ordem e na disciplina, para que não haja transtornos onde a violência e a balburdia tomam equivocadamente o nome de luta pelos direitos.

4º Diante da falta de pontualidade: é também a mesma questão: como podemos nos aborrecer por atitudes e comportamentos que não são nossos? Se assim o fazemos, corremos sério risco de estragar nosso dia com situações que são perfeitamente contornáveis.

5º Diante dos próprios maus pensamentos: sim, neste quinto item a pessoa tocou no cerne da questão. Ora, os maus pensamentos, estes sim são nossos frutos, por isso devem merecer grande atenção de nossa parte, porquanto é na casa mental, morada do pensamento, onde começa a ser escrito o futuro. Todavia, cabe-nos utilizar esse aborrecimento com os maus pensamentos para um fim útil, começando a modificar o que nos aborrece, ou seja, trocando os maus pensamentos por pensamentos e atitudes voltadas ao Bem. O que convenhamos: é pura questão de treinamento e comprometimento com um ideal que elegemos.

Então veja o caro leitor: os fatos da vida, na maioria das vezes são mais subjetivos do que objetivos, convidando-nos a adotar uma postura, deixando-nos sempre o caminho a escolher. Nada de respostas prontas, mas sim de questões para resolvermos, porque é justamente na escolha que faremos que está embutido a maneira com que nos relacionaremos com o mundo exterior e interior.

Quando surge a doença inexorável: Um caminho é se entregar, revoltando-se, mal dizendo a vida, perdendo-se em lamentações... O outro caminho é lutar, enfrentar com coragem e procurar as razões de estar frente a frente com a enfermidade, pode ser que nessa procura encontre-se o motivo, e mais forças ainda para se restabelecer.

Quando há problemas de relacionamento familiar: um caminho é ignorar, desprezar, se afastar, ou mesmo gastar tempo com picuinhas que não levam a nada. O outro caminho é vasculhar no íntimo para ver se as razões dos desentendimentos não têm morada em nossa intransigência.

São as opções que a vida nos dá, veja o amigo leitor que não há respostas prontas, o caminho a ser traçado depende de nós, da maneira com que enxergamos o mundo que nos rodeia, se procuramos motivos, razões para nos aborrecer, certamente encontraremos, todavia, se optamos pelo caminho do auto descobrimento e deixamos de depositar nossos fantasmas íntimos no semelhante ao nos aborrecermos com querelas que em realidade não nos pertencem, descobriremos também um outro caminho de navegar no oceano existencial.

E então, qual caminho você escolhe?

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 28/02/2007
Código do texto: T396428