Uma menina
 

  Olhando as macieiras que cobriam parte do imenso vale verde, através da moldura da janela do seu quarto, a menina com a noite nos cabelos sorriu docemente. Estava só em casa. Em seu quarto. Vestida em pijama branco estampados de vaquinhas gordas e simpáticas, ela fitava curiosamente o mundo verdejante lá fora. Olhava no horizonte os coletores de maçãs que se abrigavam de um anúncio de forte tempestade tingida no fim do céu. Eles pareciam formiguinhas se dispersando rápido por entre as macieiras. Era o cair da tarde e o tempo parecia um velho cansado com as nuvens cor de chumbo grisalho avolumando o céu.

De repente a menina ficou séria. Um sonho rasgou a sua memória. Ocorrera um sonho durante aquelas horas da tarde em que adormecera e as imagens borbulharam em sua mente naquele instante. A imagem de uma mulher muito bonita lhe viera à mente. Uma mulher desconhecida, com olhar misterioso e bonito que lhe dizia ao pé do ouvido: “lembre-se do cheiro da terra, do cheiro da terra...”

Por um instante tudo se foi. As lágrimas do céu começaram a riscar suavemente a vidraça da janela do quarto da menina enquanto o vento jogava de um lado para o outro as folhas secas de uma gigantesca amendoeira no quintal da casa; parecia uma dança engraçada daquelas folhinhas sem destino e sem arbítrio. A chuva já começara a fecundar a terra. O pomar dançava ao sabor do vento como numa pintura impressionista. A menina resolveu então abrir a janela. O vento invadiu o quarto subitamente e foi embora; deixou, porém, o cheiro gostoso de terra molhada no ar. O vento voltou, agora em forma de brisa e alisou os cabelos da menina. Ela sorriu. Sorriu com intensa e secreta felicidade. Voltou-se a deitar envolvendo-se parcialmente sob o grosso cobertor e ficou a fitar o céu prateado através da janela. Deitada permaneceu; os olhinhos a espreita de algo... O sorriso contido. Uma dormência tomou conta do seu corpo e o sono elevou sua alma. Ela levantou-se da cama subitamente e apoiou-se na janela.

 

A chuva havia partido. Os flocos de algodão no céu pareciam rosas, elefantes e golfinhos. Os pomares estavam solitários, se é que podiam estar assim... O cheiro de terra molhada ainda estava no ar. Ao longe, descendo uma colina, no canto de um rio nervoso, uma mulher descia o campo acenando com felicidade. Era ela, a moça do sonho. Trazia uma orquídea azul nas mãos e se aproximava rápido. A menina estendeu a mão para fora da janela e recebeu a orquídea... A moça passou rápido sorriu e disse : “Amo você... Amo você... Diga para ele que eu vou esperá-lo... Vou esperá-lo...”


A menina pensou: ele não chegou ainda, como vou fazer para avisá-lo? Ela sentou-se na cama e se enrolou no cobertor cuidando para que a orquídea em suas mãos ficasse protegida. Uma voz ecoou na sala:

-Rosa... Rosa... Hora de acordar menina... A menina tentou levantar da cama mas a preguiça era tamanha que seu corpo não reagia. “Que preguiça gostosa”, pensou. Por fim levantou, procurou a orquídea, o cheiro da terra molhada, procurou se lembrar... Mas ... Nada... Apenas um nome em sua mente, um nome que não poderia se lembrar, mas que conheceria daqui há alguns anos.

Ela não iria esquecer daquela moça que lhe alertara sobre o amor de sua vida. Ela sorriu sozinha... Tinha um tempo longo pela frente, muito longo. Seu amor chegaria, certamente, e ela então iria dizer pra ele: “Te encontrei seu bobo, te encontrei... E vou amá-lo até o fim da minha vida... Do cheiro da terra molhada vou lembrar, dos campos eu me lembrarei e você se lembrará de mim como neste fim de tarde eu lembrei de você, de mim mesma de tudo o que virá”

Virou de lado e dormiu novamente.
   




Prezados recantistas, este texto foi uma inspiração que tive na primavera de 2000, já publicado em outro site. Mas, somente em 2005 obtive informações e provas materiais de que essa menina existe, está com 18 anos (na data desta publicação) e muitos detalhes expostos nesse escrito, por apresentarem uma materialidade inconteste, fizeram-me classificar este como mensagem ao invés de um simples conto. Sou grato a uma força Cósmica por misteriosamente ter-me concedido essa mensagem, que marcará por toda essa existência as pessoas que fazem parte do mundo dessa maravilhosa "menina".



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Ronaldo Honorio
Enviado por Ronaldo Honorio em 02/03/2007
Reeditado em 21/11/2018
Código do texto: T398477
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