Crônica de um amor perdido

Estava andando pelas ruas dia desses. Ainda é muito difícil ficar em casa pensando em nós dois. Saio e caminho para pensar no que poderia ter acontecido se ainda estivéssemos juntos. No que eu seria se ainda tivesse você na minha vida. Com certeza eu não estaria como estou hoje.

Há alguns dias começou o outono. Recordo-me que o outono é uma estação que gosto muito, ainda que o calor do verão insista em nos visitar na maioria do tempo. Lembro-me que no outono passado estávamos juntos, me lembro que comentei que a estação era propícia para casais estarem juntos, abraçadinhos, e que o inverno vinha como coroação dos meses dos casais.

Quanta ironia. Hoje estou aqui, na minha estação preferida, sozinho. Se não bastasse esta sina, ainda procuro por você e não te acho. Me dói pensar que estás passando este outono com outra pessoa. Me dói mais ainda quando recordo do que fazíamos quando vinha o frio. Dos dias em casa, juntos, assistindo um filme ou programa fútil na televisão. Lembro-me que o que importava era estar junto.

Paro em um bar. Peço algo para beber, quem sabe uma cerveja. Não importa mais, porque você sabe que nós sempre bebíamos o que você queria. Eu achava graça daquilo. Sua personalidade forte é uma de suas maiores virtudes, mas, às vezes, também um de seus maiores defeitos. Não ligava, achava tudo muito engraçado e me lembro que depois do pedido você me olhava com aquele ar maroto de quem diz “venci outra vez”. Depois nos abraçávamos e conversávamos por horas.

Saio do bar e caminho por alguma avenida que não sei o nome. Você sabe que eu nunca me lembro o nome das ruas. Passo por alguém que me olha, me fita e mexe a cabeça como que com dó. Será que transpareço tanto assim a minha dor? Passo horas no trabalho sorrindo, tentando parecer forte, e acho que ninguém percebeu a minha dor. Será? Se notaram, não me disseram. Lembro-me agora de algumas mensagens que recebi dos colegas de trabalho, muitas delas me dizendo para lutar. Agora faz sentido aquele olhar de dó recém recebido.

Nossos conceitos se modificam ao longo da vida. Alguns, inclusive, se perdem no caminho e dão lugar a outros, formados com elementos mais sólidos. Recordo-me que quando mais jovem sempre me pegava dizendo que sofrimento não era para mim. Me dizia forte e insensível o suficiente para tirar de letra qualquer dor que se aproximasse. Quando se é mais novo o mundo parece algo a ser conquistado, e conquistado de maneira fácil. Coisa de jovem mesmo.

Hoje, mais maduro, sei que as perdas podem nos gerar aprendizado. Mas são muito duras quando a vontade de conquistar algo é realmente grande e consciente. Perder você foi, sem dúvida, uma das maiores derrotas da minha vida, e conviver com isso está sendo doloroso demais. Lembro-me, ainda, que te perdi aos poucos. Enquanto meu amor crescia, o seu diminuía. Isso fez com que eu me sentisse o menor dos homens. Agora, andando nessa rua deserta, começo a perceber que, nos meus sonhos, você volta, diz que me ama e fica comigo o resto da vida. A esperança é tão forte que meus sonhos refletem este sentimento dia-após-dia.

Chego em casa. Olho para o sofá. Lembro-me que deitávamos ali, exaustos, depois de um dia inteiro de trabalho. Você colocava os pés em minha perna e eu os massageava, às vezes brigando com você quando me dizia que ficava muito tempo em pé. Paro no meio da sala e visualizo estas cenas com tanta precisão que parecem reais. Arrumo minhas coisas e me preparo para dormir.

Deito na cama e me lembro das longas conversas que tínhamos ali. Você falava e eu respondia de olhos fechados. Você brigava por achar que eu não prestava atenção. Eu abria os olhos, te mirava e dizia, movimentando apenas os lábios, que te amava. Você sorria e me abraçava. Lembro-me do par ou ímpar para ver quem ia desligar a TV.

Depois de rememorar todos esses momentos, finalmente consegui dormir. Meus olhos estão fechados e sonho com você. Nesse sonho você me diz para continuar e que não vai mais voltar. Acordo assustado, tentando não acreditar que aquilo é verdade. Mas é. Choro e me conformo em esperar que a eterna escuridão de minha vida um dia se acabe.