Alusão

"A previsão dizia que ia chover. Lamentavelmente eu queria me molhar saindo sem meu guarda-chuvas. Andei na tempestade por tolice ou por mero consentimento.

¨Às vezes, de propósito, esqueço o guarda-chuvas pensando que a tempestade será apenas uma lubrina. Confesso!¨

Olho para o céu e vejo a tempestade que está se armando. Alguns raios caem bem próximos de mim e mesmo assim lá vou eu, seguindo festivo no tempo fechado.

Vou me escondendo daqui e dali debaixo de árvores gigantescas, pensando que é debaixo delas que estarei seguro, mas teimoso vou seguindo. O coração fica pequeno, as lágrimas insistem, o frio na barriga congela, mas lá vou eu, rumo ao deserto do sentimento falado por muitos e por poucos vivenciado.

Se eu pudesse ao menos prever que a chuva seria de fato apenas uma lubrina seria tudo mais tranquilo. Mas acontece que quando se é fraco pra chuva, "coisa que julgo de quem seja forte", a chuva vem, encharca, devasta, arrasta e inunda.

Daí fico a pensar: vale ou não a pena ser fraco e enfrentar a tempestade?

Quem nasceu para fraqueza quase sempre desconhece da força que tem. Quem sabe nadar nessas horas leva grande vantagem, mas quem não sabe fica aguardando que passe uma boa alma e jogue uma boia.

A vida tem destes mistérios dos quais sabemos os riscos, mas mesmo assim insistimos na tentativa de fazer da chuva nosso oceano de paz e realização. Os fracos vieram para dançar na chuva, literalmente.

Da próxima vez eu juro, antes de sair de casa meu guarda-chuvas será o primeiro a ser colocado na minha mochila. Espero não esquecê-lo! Com previsão de chuva não saio mais!

Assim que se aprende a lição, bem feito pra mim que esqueci o guarda-chuvas atrás da porta! Eu sabia que ele estava lá mas resolvi esquecê-lo pensando que a previsão iria falhar."

Daniel Cezário Rosa, o náufrago.