Ao amor e dádiva, flor do meu norte!



             Quando meus sentimentos germinavam na primavera de minha existência, sementes ornadas de puerilidade, sim, mas abrilhantadas com os mais nobres propósitos, eu sonhava acordado com você numa existência quântica no universo de minha imaginação, uma flor de terna singeleza e riqueza íntima guardada por espinhos zelosos. Onde estava você? Apenas um ideal sem forma nos meus devaneios ou a formosa mulher, a menina imbuída de sonhos passeando por uma ponte de arco-íris, que refletia sobre sua existência sob a chuva que banhava seus cabelos. Onde eu estava na primavera de minha vida? Colhendo apenas sementes de esperança e na contingência de um pretérito perfeito, plantando no jardim de nossos prováveis e enigmáticos futuros, mais que perfeitos, cantando uma canção de amor.
             Toda a realidade se manifesta do inconsciente cósmico universal, e sua consciência concede à nossa temporalidade o cinzel e os elementos para lapidarmos nossos sonhos no mármore da existência. A arte mais difícil não é realizar um sonho, mas torná-lo viável. E para isso, temos de agir como um escultor que talha uma pedra.
             Você sempre esteve fecundando meu solo, meu corpo, numa enigmática proposta algébrica de desejos secretos. E nessa longitude oceânica nossos barcos navegaram por densas tempestades e solitárias calmarias, mantendo o curso dos signos das estrelas que apontavam o porto seguro e um farol inseminando com suas luzes a imensidão do céu profundo.
             E as histórias inscritas em nossas almas, ardendo em nossas peles, correndo fugazes pelos rios de nossas artérias, foram construindo o mosaico de sentimentos nos outonos e renovando-se nas primaveras; sentimentos compartilhados, doados, desprezados e teimosos em renascerem das cinzas de nossos desânimos, se transformando em chamas que aqueciam nossos árticos interiores, como o fogo que arde no inverno em meio à floresta de cedros, em noite de luar, com a neve congelando nossas lágrimas.

             Mas após tantas estações, tantos mares navegados, o horizonte se configura, a terra firme se manifesta e o momento se eterniza em mais uma possibilidade, transmuda-se em belo oásis, em um vale que recebe a brisa mais fresca do mar, um vale entre os cedros e pinheiros que sempre cresceram nos meus sonhos com você. Nossos navios atracaram e nossas existências se cruzam nessa estância. Não estamos nos encontrando, mas nos reencontrando, pois já nos conhecíamos nas dimensões mais profundas de nossos sonhos. E vou ter amar como nenhum homem jamais te amou, ter deixar livre de minha possessividade, te acalentar no frio e ser tua brisa fresca no verão. Talvez todas essas três centenas de luas que vislumbraram nossa navegação pela existência, tenham me ensinado que o segredo do amor é simplesmente regar o amor, essa flor silenciosa que retribui seu ardor com sua beleza. Flor do meu norte, vou sentir sua fragrância, amar sua beleza singular e viver cada dia como a dádiva mais primorosa da vida. Do leste ao oeste e do sul ao norte deste jardim é a flor esplêndida nessas estações que outrora, eram meros esboços de felicidade, morada distante de realidade, e agora se faz docilidade em vida, paixão que sacia o êxtase, alegria que irradia luz, lágrimas de alegria que nutrem a sua raiz. No fundo dessa emoção uma luz enamorada me conduz e os destinos, que não existem, nós traçamos em sendas que nos conduzem à casinha verde no fim do vale sob nuvens alvas de sentimentos. Eis nosso promontório de realizações, eis nossos sonhos transmutados em fraternidade, em carinhos, em volúpia. Vamos nos consumir, dizer adeus e rir para o tempo, dizer adeus à curva do rio que desemboca no mar onde a nau que nos conduz à eternidade nos aguarda. Diremos não aos adeus. Deixa eu te amar agora na relva, polinizar seu ventre e me embriagar na felicidade de lhe ver feliz.







Todos os Direitos Reservados - Lei 9.610 de 19/02/1998
Ronaldo Honorio
Enviado por Ronaldo Honorio em 06/02/2008
Reeditado em 21/11/2018
Código do texto: T848691
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.