PÓSTUMO ANIVERSÁRIO

Nascido a 27 de outubro de 1917, se ainda entre nós estivesse, hoje, José Gomes da Silva - Senhor Gomes, estaria completando 92 anos de vida.

Mas, essa criatura iluminada partira de nosso convívio, prematuramente, ainda que aos 91 anos de idade, no dia 27 de janeiro próximo pretérito.

Senhor Gomes foi um dos tantos Josés que ao mundo vieram com o propósito de servir aos mais humildes. E todos os Marizopolenses somos testemunhas de que assim foi o comportamento desse cidadão enquanto conosco habitava aqui na terra.

E o mais importante de tudo isto era que ele servia aos mais pobres usando recursos próprios, advindos do seu labor. Pois, pacato e de palavra com o era, quem a ele estendesse a mão em busca de ajuda não era ele homem de recorrer aos burocráticos serviços de assistência pública para atender ao clamor de quem por ele gritava.

Homem de primeira hora. Uma vez compromissado com sua causa, não era de fugir a luta. Pelo contrário, era uma presença com a qual você poderia contar como certa. Todos poderiam falhar, mas o saudoso Senhor Gomes, por questão de foro íntimo, sempre era o primeiro a chegar. E chegava resolvendo a questão.

Esse seu jeito de ser o tornou líder de referência regional. E, por nunca ter apresentado disposição em postular mandato eletivo no Município, talvez por isto, teve ele dificuldade de amadurecer politicamente.

E a carência dessa maturidade o tornou genuflexo de oligarquia política que só ofereceu a ele a cultura do derrotismo eleitoral em suas bases e a pseuda ilusão de se sentir realizado com peças fundamentais desse grupo assumindo cargos eletivos dos mais relevantes na Assembléia Legislativa do Estado e junto ao Congresso Nacional.

Senhor Gomes - do alto de sua inocência política, portanto, sem interesse de ordem alguma, principalmente em época de eleição, bancava festas em sua casa, com churrasco e peixe regados ao bom whisck, cerveja e cachaça, para receber a visita dos candidatos lançados pela a oligarquia de sua genuflexão e de alguns dos lacaios locais, que eram os primeiros a chegarem à festa e a sentarem à mesa para usufruírem do manjar oferecido pelos os Gomes.

Os candidatos apoiado pela a oligarquia ganhavam a eleição, desapareciam do cenário e só voltavam a visitar Senhor Gomes quatro anos depois em busca do velho apoio. E, dado a fascinação própria de processo eleitoral, o Líder Marizopolense esquecia as cobranças pretéritas e, em troca de nada, voltava a oferecer seu prestígio eleitoral aos que passavam, figurativamente, exercendo mandatos eletivos junto às esferas diversas.

Os que ficavam na base recorriam a Senhor Gomes em busca de todo tipo de sorte em exploração. Muitos almoçavam e jantavam, diariamente, na casa do Líder. Outros recebiam autorização para dormirem em prédios pertencentes a Senhor Gomes, já que não tinham onde morar, porque familiares não os aceitavam em suas casas.

Alguns funcionavam como porta-vozes do Líder junto a Deputados e instâncias outras ligadas ao campo político. Estes, muitas vezes, se digladiavam entre si, para chegarem primeiro junto ao líder em busca de missão.

Confiança era, pois, o que o Líder Senhor Gomes nutria por todos esses que, sem vínculo familiar de ordem alguma, por longos anos viveram e sobreviveram de sua frondosa sombra, até mesmo para a consecução de cargos de confiança em direção de escola, por exemplo, e empregos diversos no Estado e Município.

E todos esses exploraram com maestria a boa performance social, financeira e política que esse Líder ostentava. Utilizando Senhor Gomes como lume de introdução a vida profissional, social e política de cada um, galgaram horizontes na vida privada. Aproveitaram-se da inocência de um "ser" que só o nome sabia assinar e, como religioso que era, acreditava que Deus o recompensaria por dá as mãos a uma legião de aproveitadores de sua frondosa sombra.

Ledo engano.

Não tardou muito para o desencadeamento de um processo de traição política de feição semelhante ao que Brutus praticara contra o Imperador César, em Roma antiga. E a dor foi maior ainda quando se alcançou que essa perfídia decorrera, também, de macunação orquestrada por membros da oligarquia pela qual, ao longo da vida política, o Líder Senhor Gomes, genuflexo como era, guardava respeito e consideração.

Mas, hoje, mesmo ausente em matéria, Senhor Gomes aniversaria. E, diante a honra de ser filho de uma pessoa tão especial - por ser protagonista de um longo capítulo da história de Marizópolis; tão singular - por confiar em homens de índole saltimbanco; e tão presente - por ter sido um paizão responsável, dedicado, amoroso e fiel, é que quero render tributo a sua memória.

Parabéns meu pai, pelo o transcurso dos seus 92 anos de idade.

Amar-te-ei, eternamente.

Sousa – Paraíba, 27 de outubro de 2009.

Escreveu:

Dr. Dionízio Gomes – Jornalista, Advogado, Poeta e Político

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Dionízio Gomes
Enviado por Dionízio Gomes em 02/11/2009
Reeditado em 04/01/2013
Código do texto: T1901806
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