Para minha irmã Número Doze

A pouco lembrava de meu pai dizendo que nasceria um menino e o nome seria “Porsebom”, ele tinha tanta convicção com a escolha do nome que me assustava pensar ter um bebezinho com um nome tão estranho. Na minha inocência adolescente de um tempo quase infantil insistia em outras opções, temia de fato que o bebê fosse um menino e o registro assim fosse efetuado.

Uma vez ele disse que esse era o nome de um delegado amigo dele, e que de fato era uma pessoa boa, e foi desde então que passei a notar a força das palavras e de nossas escolhas. Finalmente mamãe foi a maternidade e trouxe um pacotinho lindo, uma menina, lembro de Norma (nossa irmã número onze), pequenininha olhando o seu nariz e dizendo "parece um folgadinho" na verdade ela queria dizer "um salgadinho" mas a graça da infância está principalmente nos detalhes que jamais fogem de nossas memórias.

A minha felicidade naquele instante girava em torno de vários acontecimentos, inclusive na certeza de que você seria a nossa caçula. Papai estava sentado com você no colo, e todos curiosos e claro, felizes pela certeza de que não teríamos um irmão chamado Porsebom, e naquele instante, peguei um papel e uma caneta e sugeri que papai registrasse o seu nome iniciando com a letra P para homenagear o amigo, mas por ser uma menininha, que pudéssemos chamar de Priscilla, e sim, enfatizei que deveria conter duas letras " L " para ser um nome forte, e assim o convencimento se deu, e nossa “Priscilla”, com dois “L”, forte e determinada prova a cada dia o quanto a palavra tem poder, o quanto somos fantásticos e determinados quando acreditamos na palavra dita e nas lições ensinadas.

Tudo isso passou agora pela minha cabeça, e já se vão trinta e três anos, um pouco de saudade, um pouco de satisfação, um pouco de orgulho e muito amor por ser quem somos, e por assim, ser bom, como papai desejou que fosse.

A cada dezessete de outubro, quando dedico alguns minutos para registrar o desejo de feliz idade nova, não sei ao certo o motivo, embora desconfie, essas memórias surgem e sinto a necessidade de lhe contar, afinal, ainda que você fosse pequenina, esteve lá, colaborando com a construção de quem somos hoje.
 
Feliz Idade Nova
Sua irmã Número Quatro
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 20/10/2019
Código do texto: T6774424
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.