CRISE DE ABSTINÊNCIA





 
               Nunca levei a sério a tal crise de abstinência.
               É difícil, ‘doído’, necessita acompanhamento médico, etc, etc ... nada disso me causava empatia. 
               - Sofre, mas passa!
               Como não tenho vícios, (apenas o do café ... mas com esse parei e não senti nada de diferente) não sabia o que era uma crise de abstinência.
 
               Não sabia!
 
               Devido a percalços da vida somados com a morte de meu pai, meu médico achou melhor me receitar antidepressivo. Estava mesmo precisando, pois sozinha não estava dando conta da melancolia, apatia e descaso com a vida.
               Mas receitar antidepressivo não é simples como receitar um antigripal ou um antibiótico, são necessários meses de avaliação de dosagem, princípio ativo e tantos detalhes a mais. Quem toma, sabe.

                         Depois de vários meses, chegamos ao Venlafaxina (agora entendi o ‘faxina’ no nome). Nada contra a medicação, pelo contrário. O problema é a paciente, esta que vos escreve.
               Não satisfeita por estar ainda tomando, e decidida a parar, se sentindo forte e decidida a ir em frente por conta própria ... e por contra própria decide parar de tomar.
               Mas (sempre há, não é?)... a tal Venlafaxina deve-se parar de tomar aos poucos ... um comprimido dia sim, dia não ... um a cada dois dias, assim por diante. E como crise de abstinência é bobagem, sofre mas passa, euzinha parou de vez.
               Procurando na Internet as consequências, encontrei uma lista de ‘peso’ ... mas com a cara e coragem, fui em frente. Sem falar na duração: 5 a 10 dias. Tudo bem.
               – EU POSSO! Só não bati no peito enquanto pensava ...
 
               Putz!
 
              
               1º dia: Dor de cabeça (menor que enxaqueca) - sensação de todo meu crânio quebrado a pequenas marteladas, e cada vez que me virava no travesseiro, sentia os ‘caquinhos’ se movimentando. Mas o refresco é o sono, muito sono. Daí vem a outra consequência listada, os tais ‘sonhos vívidos’.           Realmente são. Lembro de tudo, de cada detalhe e na sequência; o que não costuma ocorrer em sonhos normais.
               Começaram na 2º Grande Guerra, nazistas, judeus, Sinagogas, ilhas gregas nas batalhas, a Resistência Francesa e seus vilarejos ... e eu como atemporal, ora vendo ora vivenciando, até os tempos atuais, revisitando os locais e as histórias dos descendentes ... reconhecendo nomes, ruas, rostos, tudo. Passei por países que nunca visitei, mas não sei como, pesquisando na net, aquelas ruas, logradouros, nomes de vilarejos, realmente existem ou existiram.
               Sobrevivi.
               2º dia: Tontura, náuseas e vômitos ... muitos ... (acho que é daí o nome Vem La faxina)
               Consegui comer uma banana e esta ficou. As outras tentativas só se davam ao trabalho de descer ... e subir ‘goela acima’. E os ‘sonhos vívidos’ ainda vívidos.
               3º dia: Repetição do segundo, mas os sonhos não tão vívidos.
               4º dia: o qual ainda vivencio ... e sobrevivo. Náuseas, um pouco de tontura e não estou vomitando porque só como chuchu e abobrinha verde cozidos no vapor, com um pouquinho de sal. A sorte é que, contrário à grande maioria,  gosto de ambos ... mas tudo que é demais ...
               Ah! Os chás! São a minha salvação! Além de apreciá-los, me hidratam; e todos tirados de meus vasos de ervas aromáticas e temperos. Meus salvadores!
 
               Estou viva ... ainda!
               Mas, que é difícil a tal crise de abstinência ... ôh se é!
 
               E por quê discorro tudo isso?
                Para dar na cara de minha arrogância e me desculpar, pois abstinência é ‘dureza’ sim.
 
               Mas ... me conhecendo o suficiente  ... e sobrevivendo até o fim e sem sequelas, temo que a arrogância retorne.
 
               E eu volte a dizer:

 
               - Sofre ...
               - Mas passa!




Imagens retiradas do GOOGLE.






 
 
SIMONE SIMON PAZ
Enviado por SIMONE SIMON PAZ em 20/03/2012
Reeditado em 20/03/2012
Código do texto: T3565580
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