PERDÃO, AMIGO DE SEMPRE



 
     Meu amigo de sempre, venho para te pedir perdão. Perdão porque não usei só palavras justas no que te escrevi. Não serve como justificação, eu sei, dizer que têm sido tantas as mortes simbólicas (e as múltiplas degringoladas orgânicas) a que tenho sobrevivido, em especial desde 2010, que o acúmulo dessas mortes sem remédio nem saídas me tem tirado boa parte do pleno discernimento. De muito poucas sabes, que poucas partilhei. Perdoa-me. Se houve enganos demais em nosso passado, a responsabilidade é sempre mútua, e ambos pagamos desde sempre o alto preço por tais enganos. Sei o número de mortes a que tens, também, sobrevivido. Sei do tamanho da tua solidão, como sei do tamanho da minha. Não sou a mesma que conheceste, é verdade, nos longínquos tempos da nossa primeira juventude.  Tenho muita saudade de mim e de nós, mas tudo se tornou irreversível em minha vida. Seja como for, urge que saibas que tua vida me importa, como muito me importam teus destinos, os teus rumos, a permanência do nosso afeto mútuo. Apesar das aparências em contrário. Apesar das aparências em contrário. Que o Deus nos ilumine a vida e nos ajude a resgatar o possível dos rumos. Amém.