ME  MAGOARAM  DE  PROPÓSITO
(aprenda o upgrade do perdão)

 

            Embora o termo “upgrade” não faça parte da nossa língua vernácula, acabou sendo adotado como estrangeirismo.

 

            Em face do advento da informática, o jargão já se tornou popular, tendo o sentido de salto de qualidade, modernização, conversão em algo mais poderoso ou mesmo uma transição para patamares melhores.

 

            Por isso, se você se hospedar num bom hotel, e o atendente lhe oferecer um upgrade de acomodação, você pagará um bom preço por um quarto extremamente luxuoso.

 

            Isso, naturalmente, supõe a existência prévia de uma base que possa ser aperfeiçoada. Mas como podemos levar tal conceito para o caso do perdão?

 

            Lembro que, no período em que morei em Londres, sentia-me admirado com a freqüência na qual os naturais da terra usavam a frase “I’m sorry” para se desculpar - a toda hora - por coisas banais. Assim, se no metrô lotado o sujeito encostava levemente no meu braço – algo inevitável - imediatamente dizia “I’m sorry.” Você escuta esta frase praticamente o dia todo.

 

            E para os que ouviam a expressão não se identificava qualquer reação contrária ou resistência, pois todos pareciam perfeitamente de acordo em “conceder o perdão solicitado”. Mais próximo de nós, isso também acontece, por exemplo, com um esbarrão entre duas pessoas nas ruas movimentadas de São Paulo.

 

            Da mesma forma, governos e empresas costumam colocar placas se desculpando pelo transtorno de obras, e todos nós assimilamos bem a situação.

 

            Em outras palavras, perdoar as coisas que fazem parte eventualmente de nossa vida parece simples e fácil, e integram nossa maneira de ser.

 

            O que dizer, contudo, daquelas situações que nos envolvem com maldade real, e têm como mentores pessoas que não levam em conta os nossos sentimentos e o quanto irão nos ferir? Boa pergunta...

 

            Usando de sinceridade, esses “indivíduos” são “duros de engolir”, e quase impossíveis de digestão por nosso espírito e mente, e ficam lá, gravitando no fundo de nosso ser, quem sabe, durante toda a nossa existência.

 

            Afinal, como aceitar, perdoar e esquecer, aquilo que foi feito de propósito, que poderia ter sido evitado, mas foi levado a efeito retirando nossa paz, destruindo nossos sonhos, marcando o coração?

 

            Fácil ou difícil, esse perdão tão especial é exatamente aquele proposto e demonstrado por Jesus, não somente em palavras, mas também em atos práticos.

 

            Exatamente Jesus, a pessoa que deve ser considerada a mais benigna - a mais dedicada a ajudar a alma e o espírito da humanidade. O Jesus manso e amoroso foi rejeitado, espancado, coroado com espinhos e suspenso em uma cruz com cravos, tendo todo o direito de cobrar tais atos.

 

            Ele, contudo, que tinha o poder de chamar anjos poderosos em seu auxílio (Mt 26: 47-(53)-56), somente abriu a sua boca para pedir a seu Pai que perdoasse seus carrascos.

 

            Nós - que somos humanos e limitados - podemos imaginar que essa é uma situação única, heróica e especial, tendo ocorrido de forma singular, dentro de um contexto distante, uma história de séculos. Mas não é esta a orientação do Mestre, que fala em prática do perdão diário de setenta vezes sete (Mt 18:22).

 

            Isso representa, num cálculo básico, considerando que você dorme sete/oito horas por dia e está consciente e se relacionando com as pessoas por quatorze, perdoar os inimigos – e não os parentes e amigos - 35 vezes por hora, ou mais de uma vez por minuto.

 

Se isso parece demais - quase impossível - temos como ajuda uma chave que está nas palavras de Jesus na cruz: “porque não sabem o que fazem.

 

Tal posição representa encarar qualquer problema, dano ou afronta tal qual um pai que não se irrita quando a criança de colo derruba e quebra seus óculos com um movimento inadvertido de braço.

 

É também verdade que as crianças não têm a capacidade de reagir com ódio diante de algo que a contraria, pois sua mente é pura.

 

É assim que “OLHAR OS OUTROS COMO SE FOSSEM CRIANÇAS, OU COM UM OLHAR DE CRIANÇA, É VÊ-LAS NA FORMA EM QUE DEUS AS VÊ E, POR ISSO, NOS PERDOA SEMPRE”.


           “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. (Lc 23:34).



“Disse Jesus: Deixar vir a mim os pequeninos... porque dos tais é o reino de Deus.

Em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” (Mc 10:13-16)

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Texto de autoria de Pr. Elcio Lourenço. Pastor desde 1968. Engenheiro Civil e Matemático. Mestrado na Inglaterra. Paulista, atualmente mora em Brasília.