O trigo e o lagar - Jz5

Antes de adentrar aos símbolos, vamos entender alguns conceitos. Lagar era o local específico para o esmagamento tanto de uvas como azeitonas. Comparemos.

“E as eiras se encherão de trigo, e os lagares transbordarão de mosto (produto da uva) e de azeite” (Jl 2.24).

Assim como a uva era pisada no lagar, o trigo era malhado nas eiras (campo) para separar o grão da palha e depois era trilhado (esmagado) em lugar específico por força animal – “Não atarás a boca ao boi que trilha o grão” (1 Co 9.9). Para saber mais sobre um lagar antigo, dividido em três recipientes, acesse

https://cafetorah.com/lagar-de-mais-de-2100-anos-encontrado-em-israel/

Mas Gideão aparece batendo o trigo no lagar.

“...e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas” (Jz 6.11).

O entendimento superficial do caso é que Gideão malhava (ou batia) ali, às escondidas, pois para o bandido é bem melhor roubar o volume já pronto que o total que ainda será trilhado, poupando seus esforços. Mas o tipo tem uma visão de maior alcance – futuro já cumprido e futuro ainda por cumprir.

Israel é comparado ao trigo em inúmeras passagens.

“Ah, malhada minha, e trigo da minha eira! O que ouvi do Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, isso vos anunciei” (Is 21.10).

João Batista já adiantava em seu batismo de água ao povo judaico, que aquele Jesus que logo seria apresentado a eles “tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo (falando do remanescente judaico fiel), e queimará a palha com fogo que nunca se apagará” (Mt 3.12).

O lagar é também definido na Escritura como lugar de juízo ou julgamento. Fala tanto de um futuro que para nós já é passado – como o cativeiro de Israel profetizado pelos grandes profetas Isaías e Jeremias e outros –, quanto do futuro ainda por vir no período tribulacional do esmagamento de Israel e dos gentios. Falando do passado:

“Jerusalém gravemente pecou, por isso se fez errante... por isso foi pasmosamente abatida, não tem consolador; vê, Senhor, a minha aflição, porque o inimigo se tem engrandecido... pois ela viu entrar no seu santuário os gentios [cativeiro na Babilonia]...

Todo o seu povo anda suspirando, buscando o pão... Atendei, e vede, se há dor como a minha dor, que veio sobre mim, com que o Senhor me afligiu, no dia do furor da sua ira... O Senhor atropelou todos os meus poderosos no meio de mim; convocou contra mim uma assembleia, para esmagar os meus jovens; o Senhor pisou como num lagar a virgem filha de Judá” (Lm 1.8-15).

Falando do futuro de Israel e nações em seu redor:

“E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor... Lança a tua foice, e sega; a hora de segar te é vinda, porque já a seara da terra está madura.

E aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a sua foice à terra, e a terra foi segada [Israel para salvação – não fala de lagar nem de ira julgadora].

E saiu do templo, que está no céu, outro anjo, o qual também tinha uma foice aguda.

E saiu do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo, e clamou com grande voz ao que tinha a foice aguda, dizendo: Lança a tua foice aguda, e vindima os cachos da vinha da terra, porque já as suas uvas estão maduras.

E o anjo lançou a sua foice à terra e vindimou as uvas da vinha da terra, e atirou-as no grande lagar da ira de Deus [judeus e nações impenitentes].

E o lagar foi pisado fora da cidade, e saiu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, pelo espaço de mil e seiscentos estádios” (Ap 14.13-20).

Entendo que a primeira sega trata do remanescente de Israel para salvação, e a vindima final, sem distinção, do julgamento de Israel impenitente ao cerco final pelos gentios congregados pela besta que subirá do abismo.

Sou propenso a entender a primeira ceifa como a morte do remanescente fiel pelo cerco final a Israel, como que sendo ‘salvos pelo fogo’ (algo semelhante se encontra em 1 Co 3.15). Este cerco final não distinguirá o justo do injusto, pois o problema é o Israel nacional. O Senhor usa este conflito final para libertar seu remanescente que ‘morre no Senhor’, diferenciando do grupo que não morre no Senhor, mas que fará o pacto com a besta e tem seu destino com ele.

As nações agem por ódio racial e espiritual, mas Deus olha para o coração.

“Porventura lavra todo o dia o lavrador, para semear? Ou abre e desterroa todo o dia a sua terra? Não é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície, então espalha nela ervilhaca, e semeia cominho; ou lança nela do melhor trigo, ou cevada escolhida, ou centeio, cada qual no seu lugar?

O seu Deus o ensina, e o instrui acerca do que há de fazer... O trigo é esmiuçado, mas não se trilha continuamente, nem se esmiúça com as rodas do seu carro, nem se quebra com os seus cavaleiros.

Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é maravilhoso em conselho e grande em obra (Is 25.24-29).

O Senhor fará “diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve” (Ml 3.18).

Assim como o trigo é malhado, mas não esmagado, no lagar de Gideão, o Rei dos reis também baterá seu trigo no lagar da ira do Deus Todo-Poderoso, quando todas as nações estiverem reunidas no grande vale de Megido.

E assim como os filisteus não poderiam ver este trabalho íntimo de Gideão, também as nações naquele dia não vão compreender que o objetivo maior desta grande batalha final é separar para Deus um povo disposto a segui-lo por fé até as últimas consequências.

Em seguida falaremos do velo de Gideão e seu significado intrigante.