Uma casa para a arca de Deus - 2Sm5

Sabe aqueles momentos em que não temos muito o que fazer, mas sentimos que ainda falta algo? Davi estava em “descanso de todos os seus inimigos em redor” (7.1). Olhou para sua casa bem montada e lembrou que a arca de Deus repousava em uma tenda.

“Disse o rei ao profeta Natã: Eis que eu moro em casa de cedro, e a arca de Deus mora dentro de cortinas” (7.2).

Não havia nada de errado em sua percepção, era em todo verdadeira. E como servo fiel do Senhor, consultou o profeta Natã. Este foi pronto em responder.

“E disse Natã ao rei: Vai, e faze tudo quanto está no teu coração; porque o Senhor é contigo” (7.3).

Uma coisa é sermos do Senhor, e a Palavra de Deus nos garante através de Paulo que “tudo é vosso” (1 Co 3.21-23). Outra coisa é saber se podemos agir em todas estas coisas.

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21).

Natã foi rápido em sua resposta positiva pois lhe pareceu (como parece a muitos hoje!) que se era algo para Deus seria inevitável e obrigatoriamente bom. Mas esta não era a perspectiva do Senhor.

“Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação?... falei porventura alguma palavra a alguma das tribos de Israel, a quem mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que não me edificais uma casa de cedro?” (7.5-7).

Deus não aceita nada para Ele que não venha dele mesmo, que não venha da Sua vontade Santa e Soberana. Paulo sabia bem disto.

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20).

Agostinho tem um pensamento muito interessante, que ilustra bem o que propomos – “Dai-me o que ordenais, e ordenai-me o que quiserdes”.

Só Deus pode construir uma casa para Deus. Nenhum homem mortal e temporal pode conceber algo para o imortal e eterno. Ele mesmo então responde sempre na sua graciosidade imerecida típica.

“Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre” (7.12-13).

Salomão, sabemos, realmente construiu uma casa ao Senhor, inclusive com uma pompa desmesurada. Mas ele mesmo reconheceu que, apesar da sua grandeza e magnificência, não era suficiente.

“Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” (1 Re 8.27).

É exatamente onde o homem tem dificuldade de aceitar e entender que Deus age e transcende.

“E o Verbo se fez carne, e habitou [tabernaculou no original] entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).

Era desta casa que Deus falava a Davi de forma inédita.

“Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste” (Hb 10.5).

O mesmo tabernáculo de Deus na terra desafiou seus filhos incrédulos.

“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derrubai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19).

No entanto, apesar de Jesus ser este tabernáculo em que Deus podia habitar entre os homens, Ele não foi reconhecido pelos seus. Sendo crucificado e ressuscitado ao terceiro dia, subiu aos céus, “esperando até que os seus inimigos sejam postos por estrado de seus pés” (Hb 10.13).

Ele retornará para Sua entrada (agora sim triunfal!) no templo de Deus que se construirá segundo os moldes de Ezequiel para Sua entronização. A ocasião para esta entrada definitiva se dará na mesma sequência proposta nesta mesma profecia que analisamos.

“E prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes” (7.10).

Somente quando Israel estiver seguro no seu lugar, seus pecados lavados, seu templo devidamente santificado, que seu Messias tão esperado ‘confirmará o trono do seu reino [Davi] para sempre’.

Ainda que isto não fale diretamente para nós, tem o leitor e leitora convicção destas coisas? Aguarda e deseja do fundo de sua alma todo o bem para este povo sofrido, mas escolhido?

Como diz a Escritura – “o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios [eu e você] haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.25-26).

Comentaremos logo após sobre Absalão e sua triste tipologia.