Eliseu e o Filho - 2Re5

Vimos em notas anteriores que o ministério profético de Elias estava relacionado ao Pai em seu julgamento intransigente pela sua Santidade e Soberania. Mas no caso do novo profeta, Eliseu, um novo relacionamento será apresentado, e terá respaldo no ministério correspondente do Filho.

Haverá um misto de julgamento intransigente – como quando o Filho entra na casa de seu Pai e expulsa os cambiadores (temos esse paralelo na maldição imposta por Eliseu sobre os mancebos que o zombavam bem no início de seu ministério) – e graça salvadora e transformadora nos inúmeros milagres de Jesus a começar pela água transformada em vinho (sua correspondência se vê no primeiro milagre de Eliseu ao purificar as águas e terra de Jericó, porta de entrada de Israel ao sair do Egito).

Quero começar pelo grande milagre de libertação encabeçado pela palavra profética de Eliseu junto ao inimigo comum de Judá e Israel, na ocasião Moabe.

“E partiram o rei de Israel, o rei de Judá e o rei de Edom; e andaram rodeando com uma marcha de sete dias, e não havia água para o exército e nem para o gado que os seguia.

Então disse o rei de Israel: Ah! o Senhor chamou a estes três reis, para entregá-los nas mãos dos moabitas... Ora, pois, trazei-me um músico. E sucedeu que, tocando o músico, veio sobre ele [Eliseu] a mão do Senhor. E disse: Assim diz o Senhor: Fazei neste vale muitas covas. Porque assim diz o Senhor: Não vereis vento, e não vereis chuva; todavia este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós, o vosso gado e os vossos animais. E ainda isto é pouco aos olhos do Senhor; também entregará ele os moabitas nas vossas mãos” (2 Re 3.9-18).

O ministério de Jesus também tem este caráter silencioso, diferente de toda pompa e fogos de artifício de nossas tristes denominações.

“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios. Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; com verdade trará justiça” (Is 42.1-3).

Mas o que mais aproxima o ministério destes dois homens está no efeito duplo destas águas salvadoras. Perceba a diferença: para Israel, águas abundantes, para o inimigo, sangue que leva à destruição.

“E sucedeu que, pela manhã, oferecendo-se a oferta de alimentos, eis que vinham as águas pelo caminho de Edom; e a terra se encheu de água [salvação para seu povo]... E, levantando-se de madrugada, e saindo o sol sobre as águas, viram os moabitas, defronte deles, as águas vermelhas como sangue [morte para o inimigo]. E disseram: Isto é sangue; certamente que os reis se destruíram à espada e se mataram um ao outro! Agora, pois, à presa, moabitas! Porém, chegando eles ao arraial de Israel, os israelitas se levantaram, e feriram os moabitas” (3:20-24).

A pregação do nome de Jesus, segundo a visão espiritual de Paulo, também tem este caráter duplo de salvação e condenação.

“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo?” (2 Co 2:14-16).

Como ensina aquela velha figura, quando a cera derrete pela ação do sol e o barro endurece pela mesma ação, não há mudança no sol, mas nos elementos que são influenciados por ele. Assim exortaria Jesus.

“E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim” (Mt 11:6).

Vivemos tempos difíceis, como já profetizava Paulo, e que se tornarão ainda mais difíceis. Sejamos como o barro que endurece ante todas estas provas que ainda virão ao mundo antes do retorno de Cristo para buscar sua noiva-Igreja. Pois aqueles que se escondem no reino de Deus deverão dar seu triste testemunho, aos olhos de todos, que são apenas cera que derrete nos momentos de teste mais severo.

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus [oração por si e pelos outros, leitura constante da Palavra, fé, esperança, paciência, perseverança, jejuns... em consagração de si mesmo a Deus em Cristo] para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6:13).

Em nosso próximo texto acompanharemos os milagres de Eliseu no caminho da estatura do Filho.