Filho do homem - Ez2

Esta nota não estava prevista. Por um despertamento de minha mãe ao estranhar o título insistente dado a Ezequiel – filho do homem – aceitei como desafio tentar interpretar seu significado.

E fiz o que costumo fazer, o que aliás indico a todo aquele que quer se aprofundar nas Escrituras. Fiz um breve levantamento do termo pelo livro, e sempre como tenho notado, as primeiras menções são as que vão direcionar o seu entendimento no livro e nos demais que compõem a esquemática Palavra de Deus.

O termo aparece ‘só’ 92 vezes em Ezequiel. Fora de seu livro no Antigo Testamento, encontrei mais 10 ocorrências – 1 em Números, 3 em Jó, 3 nos Salmos, 2 em Isaías e 1 em Daniel.

Quanto ao Novo Testamento, diferenciado pela letra maiúscula inicial do nome mas que não se encontra no original grego – Filho do homem – as 84 aparições são exclusivas a Jesus. Destas, somente 2 não estão nos Evangelhos – 1 em Atos e 1 em Hebreus.

Então, seguindo o raciocínio acima, vamos examinar as 4 primeiras aparições do termo em Ezequiel, que se encontram no seu segundo capítulo.

“E disse-me: Filho do homem, a) põe-te em pé, e b) falarei contigo. c) Então entrou em mim o Espírito...” (2.1-2).

a) Se você se lembrar do primeiro capítulo, uma visão gloriosa de Deus em Seu trono é descrita, juntamente com uma visão de 4 seres viventes com 4 faces, lembrando a visão apocalíptica de João e as 4 formações ou funções de Cristo – Deus, homem, servo, rei – figuradamente distribuídas nos 4 Evangelhos. A esta visão gloriosa sucede a humilhação do ‘põe-te em pé’ logo no capítulo 2. Não foi assim com nosso Senhor?!

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fp 2.5-7).

Este Deus invisível, entronizado e inacessível pôs-se em pé de igualdade como legítimo filho do homem, afinal “o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10).

b) Que o Pai Lhe deu mensagem instrutiva de como agir no meio de seus irmãos, fica claro em Suas narrativas – “Porque lhes dei as palavras que tu me deste... Dei-lhes a tua palavra” (Jo 17:8,14).

c) E que Deus enviou Seu Espírito sobre Ele, está indelevelmente marcado nos 4 Evangelhos – “E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.22).

Mas se Deus se colocou em pé, recebeu uma mensagem divina para proclamar e foi provisionado para tal obra única pelo Espírito recebido, faltava o recipiente que iria ser alvo de de seu ministério. É o que nos fala a segunda aparição do termo.

“E disse-me: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se rebelaram contra mim” (2.3).

Paulo resume bem o ministério duplo do perfeito filho do homem.

“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” (Rm 1.16).

A terceira aparição do termo exige um posicionamento firme por parte do pregador.

“E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos...” (2.6).

Nenhum homem, nenhum pregador foi mais eloquente, incisivo, contundente, perspicaz, insistente e incansável como o verdadeiro Filho do homem. Desafiou não só a ordem de seu tempo, mas desafiou os limites de seu próprio corpo e enfrentou Satanás como ninguém.

A quarta ordem remonta ao mais antigo alimento espiritual, aquele maná que Israel bem desprezou.

“Mas tu, ó filho do homem, ouve o que eu te falo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu te dou” (2.8).

Como foi mesmo que o Filho do homem disse?! – “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis... A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra... Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 4.32-34; 6.38).

Ezequiel, carregando o mesmo chamamento do Messias-homem, é um tipo ou figura de alguém que sai de sua casa para proclamar as verdades de Deus a um povo rebelde. Assim como Ezequiel se encontrava no exílio babilônico, longe de sua pátria amada, também o Filho se pôs em pé longe de sua celestial habitação, proclamou a verdade maior de Deus aos judeus de seu tempo, e ainda proclama hoje às rebeldes nações as mesmas verdades de salvação.

Podemos finalizar o assunto?

“Filho do homem, profetiza, e dize: Assim diz o Senhor: dize: A espada, a espada está afiada e polida. Para grande matança está afiada, para reluzir está polida” (Ez 21.9-10).

“E da sua boca [do filho do homem glorificado] saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso” (Ap 19.15).

Como dizia um velho e ‘esquecido’ hino:

“Ao mesmo Cristo amemos. Ao mesmo Deus temamos” (Jerusalém divina - Harpa Cristã - 207).