O sinal do profeta Jonas - Pm6

Dedicamos esta nota especial para Jonas pela sua incoerência profética – seu aborrecimento pela conversão do povo alvo de sua profecia, ou seja, estranhamente pelo êxito total de seu trabalho em nome do Senhor, mesmo após ter recusado a empreitada.

Jonas (ou pombo) era filho de Amitai, e talvez pelo pai comecem os problemas, na insinuação do significado de seu nome – ‘minha verdade’. Conquanto Jonas pudesse ser enviado na simplicidade de uma pomba, a verdade que seu pai carnal proclamava não era do alto, mas debaixo do sol. Até onde a ‘verdade’ do pai influenciou na escolha do filho em negar o chamado do Senhor, não podemos dimensionar, mas quando Deus nos dá certas ‘dicas’... não podemos desprezar.

Era bem diferente de outro comissionado pelo Espírito ‘em forma corpórea, como pomba’ (Lucas 3.22) – “Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (João 7.16).

Em sua insana e inútil fuga, Társis (ou costa do mar) foi a escolha. Poderíamos igualar esta expressão a litoral ou praia, e qualquer que seja o significado espiritual desta região fronteiriça entre a terra e o mar, era “longe da presença do Senhor” (1.3), ou seja, Deus não se encontrava ali. Basta uma passagem para revelar o estado espiritual desta região intermediária, indefinida, ou modernamente falando – ‘em cima do muro’:

“E eu [João] pus-me sobre a areia do mar [ou sobre a costa do mar], e vi subir do mar uma besta... E vi subir da terra outra besta” (Apocalipse 13:1,11). Pode ser uma região que a princípio favoreça Israel no trato com estas duas bestas que logo emergirão no mundo, mas que ao final embaraçará o trato com seu Deus naquele período.

Jonas trocou seu elevado chamado para se esconder e se amalgamar com o mundo gentílico, como sempre seu povo havia feito e ainda hoje faz, pensando mundanamente que a mistura com seus inimigos lhe traria vantagens. Aliás, como já estava profetizado – “Efraim se mistura com os povos... Estrangeiros lhe comeram a força, e ele não o sabe” (Oséias 7.8-9). E Esdras arremataria – “Agora, pois, fazei confissão ao Senhor Deus de vossos pais, e fazei a sua vontade; e apartai-vos dos povos das terras, e das mulheres estrangeiras” (10.11). Quanto perigo a Igreja tem corrido, e quanto castigo acumulado!

Então Jonas “achou um navio... pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele... desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono” (1.3-5).

Quanto ao pagamento – “A todas as meretrizes dão paga, mas tu [Israel] dás os teus presentes a todos os teus amantes; e lhes dás presentes, para que venham a ti de todas as partes, pelas tuas prostituições” (Ezequiel 16.33). A isto podemos chamar ‘inversão de valores’, coisas que bem conhecemos.

O baixo porão também estava profetizado, juntamente com a certeza do castigo – “Ainda que cavem até ao inferno, a minha mão os tirará dali” (Amós 9.2).

E o sono nunca lhes faltou – “Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes” (Isaías 29.10).

Há como questionar a perfeita simbologia entre a decadência espiritual de Jonas e seu povo Israel como um todo?! Mas as semelhanças não param por aí!

Uma ‘insolente’ tempestade estorva o ‘tranquilo’ sono do profeta – “Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se” (Jonas 1.4).

Muitas tempestades são enviadas pelo próprio Deus, e não pelo diabo como alguns preferem crer. Vidas de sono, aquietadas, acobertadas pela convivência pacífica das denominações, obrigam ao Senhor tomar eventualmente uma atitude drástica para nos tirar do sono e inércia. Uma tempestade global também se abaterá sobre o mundo em breve, e se você observou com cuidado, aquela tempestade sobre Jonas e os demais tripulantes se desenrolou em duas etapas – ‘um grande vento’ seguido de ‘uma forte tempestade’. O grande vento já começou, abrangendo todos os grupos humanos – Israel, gentios e Igreja de Deus. Uma doença que confinou e restringiu muitas fronteiras e portas abertas, e duas guerras cruéis em andamento, estão preparando a forte tempestade que seguirá. Talvez um quarto castigo ainda precise ser derramado como complemento do ciclo prometido por Amós – “Por 3 transgressões de Israel, e por 4, não retirarei o castigo” (2.6).

No auge desta tormenta, olhando para o futuro apocalíptico, os muitos Jonas que dormiam serão despertados para uma proclamação de arrependimento ao seu povo, porém sob a mais cruel perseguição – “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem” (Mateus 10.2-23).

E assim como Jonas foi vomitado pela sua indiferença profética (e agora mudo o foco da interpretação), também outro grupo, com responsabilidades ainda maiores, deverá ser vomitado pelo mesmo descaso – “E ao anjo da igreja de Laodiceia [esta última em que vivemos] escreve:... Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Apocalipse 3.14-16).

O perturbador nesta semelhança é que Jonas em sua rebeldia ainda poderia ser usado como sinal de julgamento e graça para todos – tanto a morte quanto a ressurreição do Filho eleito pelo Pai. Já nossa Igreja terminal... – “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Hebreus 10.26-27).

E para concluir o assunto, mas sem esgotá-lo, o enfado de Jonas pela conversão daquele povo oprimido, seria revisto (com fermento mais fresco) na descrença e inveja dos líderes judaicos diante da comissão dos primeiros apóstolos para pregar aos gentios – “Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão. E, havendo ele dito estas palavras, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda” (Atos 28.28-29).

Louvado seja Deus!, a misericórdia e a graça divinas, imerecidas em qualquer grau, são asseguradas por Deus tanto para judeus quanto gentios no desfecho brilhante deste livro – “Você [Jonas] sente tanto por uma simples planta ter morrido, mesmo que você não tenha feito absolutamente nada por ela. Você nem ao menos plantou ou regou para ela crescer. Ela surgiu da noite para o dia! Por que, então, não deveria eu sentir pena de Nínive, essa grande cidade com mais de cento e vinte mil pessoas que não conseguem nem diferenciar o certo do errado — isso para não falar de todos aqueles animais?” (Jonas 4.11 - A Mensagem).

Sua graça salvadora e preservadora nunca foi nem nunca será retirada da humanidade, porém será reavaliada e redimensionada sob as novas condições de castigo que se abaterão sobre este mundo impenitente.

A seguir, faremos um breve relato de tudo o que vimos até agora.