O Rei sublime - Mt2

Como havíamos comentado em nossa nota introdutória ao presente livro de Mateus, este Evangelho trata da face régia e majestosa de Jesus, ou seja, seu direito ao trono em Jerusalém como perfeito e legal descendente de Davi. Esta é uma posição primeiramente atrelada ao povo judaico; e também às demais nações. Assim, busquemos algumas passagens que corroboram esta visão.

Para começar, Sua própria ligação com Davi já na abertura do livro – “Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi” (Mt 1.1). Nada mais claro ou contundente.

O apóstolo Paulo também assim compreendia e aguardava – “O qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (Romanos 1.2-3).

Uma promessa havia sido feita a Davi, e que precisava ser cumprida.

“Quando teus dias [Davi] forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho [o Filho perfeito do Pai]; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei...” (2 Samuel 7.12-14).

Esta promessa vai muito além do herdeiro direto Salomão, que, como castigo de sua multi-idolatria, teve seu reino dividido logo após sua morte, e assim terminaram Israel e Judá em cativeiros distintos. Certo é também que este reino foi rejeitado pelos judeus na missão terrena do herdeiro mais longínquo – Jesus, mas isto não anula uma promessa eterna e incondicional dada pelo Pai ao Filho. Seu governo será ainda instaurado, porém após amarga tribulação e desterro futuros como recompensa que convém ao seu erro.

“Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que com mão forte, e com braço estendido, e com indignação derramada, hei de reinar sobre vós. E vos tirarei dentre os povos, e vos congregarei das terras nas quais andais espalhados, com mão forte, e com braço estendido, e com indignação derramada” (Ezequiel 20.33-34).

Duas passagens com finalidade específica de indicar o direito ao trono do filho de Davi glorificado, não só sobre Israel mas sobre o mundo todo, também são decisivas em Mateus.

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.31-34).

Este precioso momento se dará ao término da tribulação, após a ceifa final realizada pelos anjos, tanto a sega da terra quanto a vindima das uvas da vinha da terra (Ap 14), e o Rei em pessoa separar cada indivíduo vivo dentre as nações gentílicas. Aqui não há previsão do grupo judaico, mas somente os povos e nações que restarem ao final da tribulação.

A segunda menção deste reino em glória trata exclusivamente dos judeus que restarem naquele mesmo período.

“Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós [teus discípulos do ramo judaico] deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos? E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (19.27-28).

Conquanto seja uma promessa dada apenas aos seus 12 discípulos, eles estarão ligados a todo o remanescente judaico apto a entrar no reino dos céus. Paulo novamente é contundente ao citar Isaías.

“E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; aí serão chamados filhos do Deus vivo. Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente [fiel] é que será salvo” (Romanos 9.26-27).

E como numa parábola escatológica, assim como o choro de ‘Raquel’ pelos filhos mortos por Herodes antes da maioridade de Cristo foi ouvido em toda nação (Mt 2.18), também no final dos tempos o novo Herodes auto divinizado os levará novamente ao pranto e desespero antes da glória daquele que descerá dos céus para assumir seu trono.

Podemos ficar tranquilos quanto a duas promessas futuras – o Messias de Israel retornará um dia em glória para libertá-los definitivamente de seus inimigos (algo não muito desejado pelo mundo), e nesta mesma glória visível Ele será entronizado em Jerusalém para governar seu povo e os demais povos (algo não muito esperado pelos cristãos).

Podemos concluir o tema – por enquanto! – lembrando o grande profeta Jeremias, nutrido pela mesma esperança.

“Porque haverá um dia em que gritarão os vigias sobre o monte de Efraim: Levantai-vos, e subamos a Sião, ao Senhor nosso Deus. Porque assim diz o Senhor: Cantai sobre Jacó com alegria, e exultai por causa do chefe das nações; proclamai, cantai louvores, e dizei: Salva, Senhor, ao teu povo, o restante [ou remanescente] de Israel” (Jeremias 31.6-7).

Ora vem, Senhor Jesus.