COMIGO MESMO

Domingo, dia seis de novembro de 1.983, cinco horas e quinze minutos. Passei a noite jogando buraco.

Sinto estar inspirado para lançar algo que aprisionado no meu interior, quer se libertar.

Agora estou certo de que o sentimento do momento é próprio de mim. Percebo-me como o verdadeiro e único “Vlademir”. Como é bacana viver você mesmo, conhecer a sensação de curtir a si, gozar dos detalhes originados nas profundezas do seu interior.

É sensacional o encontro de você com você. Você sente muito mais você. Você não procura mais nada por já ter descoberto tudo. Tudo fica diferente, nada te preocupa.

Só que quando o agora for passado, certamente tudo voltará ao que foi até ontem, ou seja, deixarei de ser esse “eu” para ser um pedaço de você, de você e de você também.

Por enquanto ainda sou o ideal, sou eu como eu sou. Por isso quero aproveitar esses preciosos segundos, para me aprofundar até o meu infinito. Quero me ver por dentro, observar o panorama, inspecionar meu organismo, curar algum possível mal programado, enfim, aprender comigo mesmo. Quem sabe até não esqueça do caminho de volta, ficando por lá para sempre.

Sempre que possível se procure, daí talvez entenderá o quanto você é rico.

Segunda-feira, dia onze de abril de 2.004, vinte e três horas e sete minutos. Passei o dia trabalhando.

Sinto saudades desse tempo, dessas viagens que fazia, não precisava muito, algumas doses de álcool, talvez cerveja e o tabaco, meu companheiro por muitos anos, que felizmente abandonei.

Como era legal esse mergulho, se encontrar consigo mesmo, se conhecer de fato, você não se engana, você se conhece, você assisti seu filme, vê com nitidez suas qualidades e seus defeitos, procura através dessas cenas mudar e se corrigir.

Nessa trajetória muita coisa aconteceu e mantenho em mim essa fissura por idéias dessa magnitude, pena não ter continuado com os exercícios que fazia eu melhorar na prática, vivendo de uma forma muito diferente, nada automático, mecânico, eu sentia o copo gelado de cerveja tocando em meus dedos, seu peso, seu cheiro, sua forma, seu gosto, que aos poucos ia tomando e sentindo gole a gole, todo o itinerário, desde a boca, a garganta, etc.

O relógio não me apressava, nada me pressionava, incrível como tudo dava certo, o pneu do meu carro nunca mais furou, não me faltou mais dinheiro, todas as meninas que despertavam interesse me aceitava, não tinha compromissos com nada e nem com ninguém, se sentia sono, encostava o carro e ia para o banco de trás e simplesmente dormia até que o sol da manhã me despertasse.

Como é maravilhoso você sentir o que está acontecendo, o vento soprando, uma música tocando, o cheiro do café, uma criança lhe sorrindo, certamente nunca mais você sofrerá de estresse.

vladis.fernan@globo.com

Vladis
Enviado por Vladis em 30/01/2006
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