Em 1977...

Pois é, a Copa tá aí e eu nem sei direito os adversários do Brasil. Aliás, não sabia, pois um amigo meu me passou um e-mail me dizendo. Então, depois de agradecer pela informação, um pedaço da minha história me veia à tona. Quanto aos adversários do Brasil na Copa, tirando a Croácia,

creio que os outros dois vão ser moleza. Se bem que já ouvi falar que o Japão

está bem. Mas japonês já sabe jogar futebol? Como o mundo muda!

Posso estar enganado, mas creio que esta Copa vai ficar com algum país europeu.

Sei que o Brasil tem um monte de gente com nome, mas sei não... Minha infância é

muito marcada pela Seleção Italiana (os pais da minha avó são calabreses.

Então, aprendi a torcer pra Itália toda vez que o Brasil não jogava). Gostava

muito do Antognoni, ele me fazia lembrar do Mendonça do Botafogo. Também gostava

da Seleção Alemã (Karl-Heinz Rummenigge - nem sei se é assim que se escreve) e do

Hans Müller (camisa 10 e canhoto). Claro, também tinha o Maradona, o grande

ícone do futebol mundial na época em que eu acompanhava futebol com mais afinco. E

que ainda por cima é canhoto. Não sei se você sabe, mas também sou canhoto (de

pé, mas de mão sou destro. Quem é assim é o Rivelino e, acho, o Gerson).

No meu tempo de infância me lembro de um Eduardo que era canhoto de mão e destro de pé.

Se não estou enganado era Eduardo Alves, era o número 12 na chamada. Eu vinha

logo atrás, era o 13. Aliás, nessa época tinha o Zé Antônio, professor de

educação física, que cismou em me colocar na lateral esquerda (eu sempre odiei

jogar na defesa, sempre gostei de jogar do meio de campo pra frente). Era muito

chato ser da defesa, mas como eu era o mais novo da turma, não tinha muita vez nas decisões.

Aí, ele colocava uns caras mais velhos e muito ruins de bola lá na frente. Nessa

época eu tinha uns 10 anos, os caras tinham uns 12, 13 ou até mais. Puxa, isso

foi em 1977! Caramba, parece que esse tempo nem existiu! Se eu falar isso pras minhas filhas, elas vão achar que estou ficando maluco, pois não irão acreditar que eu

já tive 10 anos em 1977! E que nessa época ninguém imaginava que um dia os LPs

se tornariam algo obsoleto, que o telefone celular seria algo difícil de se

imaginar sem ele, que a Gelato iria falir. Eu me lembro das pessoas falando que

um dia os Beatles iriam tocar novamente junto. Não, isso foi mais tarde, pois

nessa época eu nem sabia o que eram, ou melhor, o que haviam sido os Beatles.

Aliás, de música eu só conhecia "O dia em que a Terra parou" e "Eu nasci há dez

mil anos atrás", além de "Jailhouse rock", que descobri em um daqueles discos

pesadões na vitrola lá de casa. E só! Meu universo era mais o futebol e, creio,

era um contestador, pois torcia pro Botafogo (que já naquela época não ganhava

algo há anos), enquanto a grande maioria torcia pro time do Zico. E olha que

também nessa época achava que o Zico era o Roberto Carlos. Então, quando as

pessoas falavam que o Roberto Carlos não tinha uma perna, eu sabia que não era

verdade, pois eu o "via" jogando bola na televisão. E quando o Elvis

morreu (eu sabia quem era o Elvis, afinal, quem é que não sabia quem era

o Elvis?), perguntei pra minha mãe: "Mas qual Elvis morreu?" Ela

simplesmente respondeu com outra pergunta: "Qual Elvis? Ué, só existe um

Elvis!" Aí eu fiz nova pergunta: "Ué, mas não são dois? Tem aquele dos

filmes e aquele outro que usa aquela roupa branca, o que tem o cabelo grande e

usa aquelas coisas na orelha". "Costeletas", minha mãe disse. "Eles são a mesma

pessoa". Caramba, isso foi mais um choque pra mim: só existia um Elvis

no mundo. E eu vi o mundo inteiro chorando a sua morte. Se bem que hoje sei que

na verdade ele nunca morreu, pois o que a gente mais ouve é que Elvis não

morreu. Nem sei por que estou escrevendo essas coisas, mas vou logo dizendo uma verdade (ou quase verdade): Não sou maluco! Talvez um pouco... Puxa, mas quem às vezes não acorda com aquela sensação de que tudo passou tão rápido?