Quero um lugar, um tempo para descansar e livrar meu corpo desta letargia e minha alma desta dor, desta agonia...
Um tempo onde eu não precise dizer nada, onde não me peçam nada...
Um lugar onde me permitam o direito de dar vazão ao pranto que venho engolindo com o bom dia sorridente, enquanto visto meu rosto com um semblante sereno...
Um tempo para chorar livremente e lembrar quando papai me colocava no colo, restabelecendo em mim, o equilíbrio que necessitava para dormir em paz, um tempo que quando a saudade apertava eu ia ao seu encontro tomava a bênção e meu coração se aquietava ...
Um lugar onde eu possa sofrer por tudo que perdi e repousar meu cansaço em silêncio, encontrar o que perdi de mim ao perder o senhor, chorar pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo, pelo que confiei e me traíram...
Preciso desse tempo para sofrer e chorar por tudo que, enquanto o senhor estava aqui, parecia não ter importância, mas agora se apresenta como um muro que não consigo ultrapassar;
Um tempo para me deixar invadir por esta dor que me dilacera, porque ela é minha, real e única, e como tal deve ser aceita, compreendida e superada, mesmo que eu ainda não saiba lidar com ela...
Meu coração sangra com uma chaga aberta e sofro por não conseguir ser forte, por não conseguir ajudar a ninguém; tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e a sós com ela, mas preciso dessa solidão para encontrar um novo caminho, um novo jeito de seguir adiante.
Preciso de um tempo para voltar a acreditar que daqui há pouco tudo vai parecer diferente e novo. Que vou secar os olhos e vou à luta outra vez e da dor ressurgirei mais forte... Mas por enquanto preciso chorar em paz...
11/11 – sessenta dias sem papai...