Sabedoria e discrição

Lembro sempre muito de minha mãe. Vontade de compartilhar com ela, coisas do meu dia-a-dia, ouvir sua opinião sobre outras coisas. Escuto sua voz, chamando por mim no portão, sábados à tarde, na sua costumeira visita semanal. Sinto saudade dela.

Tenho três guardanapos de crochê feitos por ela. Impecáveis, um ponto igual ao outro. Ela nunca fez curso nenhum. Também costurava, sem jamais ter feito curso. Segundo minhas filhas, minha mãe é uma lenda.

Lembro de sua figura simples, sempre discreta, sem gestos largos, sem erguer a voz, sempre foi presente, sem necessidade de usar de artifícios para chamar a atenção. Tenho fotos de sua juventude. Ela foi uma garota linda. Traços daquelas figuras de camafeu. Meu pai falava de sua beleza, com o maior orgulho. E tinha ciúmes dela.

Minha mãe, dentro de sua simplicidade humilde, era uma mulher de classe. Em casa, nem ela, nem meu pai, costumavam usar de palavrões e nos repreendiam se éramos surpreendidos usando-os. Não lembro de meus avós, tios e tias fazendo uso de um palavreado mais vulgar, nem mesmo no alemão que falavam.

Lembro de meus pais, se divertindo e rindo muito, durante nossas reuniões familiares, com as piadas contadas por um de meus irmãos mais velhos, grande piadista, ou pelos seus filhos, que puxaram ao pai. Brincadeiras sadias, sem apelação, que continuam agora, unindo meu irmão, filhos e netos.

Estejam onde estiverem, sei que meus pais nos acompanham nas nossas realizações, nas nossas alegrias, nas nossas tristeza e frustrações. Procuro me espelhar no exemplo deles. Ser alegre, ser autêntica, ser franca, sem perder a compostura, como minha mãe jamais a perdeu. Procuro imitar aquela elegância discreta, no expressar-me, seja pela palavra falada, ou escrita.

Quando escrevo, penso nas pessoas que me lerão. Minhas filhas, amigos, irmãos, sobrinhos... Pessoas que ainda não conheço, mas que um dia poderão ficar frente a frente comigo. Gostaria que sentissem orgulho de mim, jamais vergonha, muito menos, humilhação.

05/01/2007