DOR DA SAUDADE

DOR DA SAUDADE - esposa inesquecivel

Estendeu-se ao leito com um sonho,

“Boa idade" com saúde gozar,

Uma velhice de anos risonhos,

com a família, a felicidade desfrutar.

Despertou do sono a lembrar,

do lar feliz e da família cuidar.

Acordou o marido para o café coar,

os "meninos" deveriam ir trabalhar.

Quem não usa o travesseiro com zelo,

leva os problemas diários ao deitar,

desperta amuado e com pesadelos,

suando frio e fígado a amargar.

Ela dormiu sem pesadelos,

nada de ruim tinha a lembrar,

só a dor de cabeça de arrepiar os cabelos,

nem médico ou reza conseguira curar.

Naquela trágica manhã ao se levantar,

aos tombos de sono foi a urina verter,

ataque de AVC a vida veio lhe ceifar,

estupor e dor no lar, com o súbito falecer.

Manhã de desespero e dor no feliz lar,

13 de Abril 97 jamais esquecido,

uma vida que muito havia para gozar.

Porém, não se discute a lei de Deus.

Sempre recordo com dor e pavor,

o fatal dia de horror ao vê-la morrer.

Relembro meio século de paz e amor,

o sorriso terno de quem amava viver.

Relembro e amargo os erros cometidos,

falhas de compreensão, carinho e amor.

Mas agora confessar não tem sentido,

resta o velho e solitário coração sofredor.

Através de inefável sentimento de dor,

espiritualmente lhe demonstro meu amor,

contudo, após sua morte, é uma pena,

a consciência me enche de saudade e fervor.

Ó Deus, por que me deixou e a levou,

quando ela amava a vida com ardor?

Derramo lágrimas com amargor,

de saudade de alguém que muito amei,

dizem que a saudade é o alimento do amor,

se há outros adjetivos de saudade não sei.

A saudade que sinto é de indescritível dor,

lágrimas vertidas em muitos momentos,

por alguém que me devotou sincero amor,

cumprindo juras no ato do casamento.

Doloroso remorso invade meu coração

mesmo abalado de inaudita aflição,

ao tomar a decisão por pretender estender,

à vida daquele ente, os órgãos numa doação,

por não saber se ela ainda pretendia fazer,

mantendo no espírito a mesma determinação.

Sabia do medo que ela teria ao reviver,

após um pretenso ataque de coração.

A intensa e dolorosa dor que me tortura,

é lembrar-me da placidez de sua face,

o eterno e indecifrável riso de ternura,

parecia dormindo, um anjo de doçura,

escondendo a dor do fatal desenlace.

Perdoa-me se errei em tomar a decisão,

meu espírito ficou em estado de loucura,

ao ver a covarde morte levar ao desterro,

alguém com tanta ânsia e alegria de viver,

com a esperança do quarto neto nascer.

Embora seja a lei de Deus o querer,

Quem sou eu para o destino compreender?

Desesperado, eu odiei e até blasfemei,

abafado e sofrido pela dor indescritível.

Antes perdi meus pais e me conformei,

Mas a sua morte, com Deus me revoltei.

A morte repentina é incompreensível,

deixa o espírito com profunda tortura,

para quem falece é uma graça aprazível,

mas os que ficam sofrem amargura.

Sua ausência no meu espírito produziu

radical, porém serena transformação,

para o amor ao próximo me induziu,

cortando parte da “juba do leão.”

Fiquei com o fardo da vida a carregar.

Deus é sábio, ela merecia isso não,

uma vida de insuportável labutar,

num mundo de violência a imperar,

a ferir-lhe o coração de comoção.

Foi alguém que viveu sem deixar a desejar,

distribuindo carinho, amor e devoção.

mereceu logo cedo ganhar um lar,

na venturosa vivenda do Senhor,

onde talvez eu não a poderei visitar

por na vida infligir leis do Criador.

Até como um pretenso poeta,

sequer sei exprimir por ela meu amor,

contudo o meu amor espiritual.

os anos passam e permanece,

o amor é único e ninguém esquece.

Nos veremos na vida espiritual,

se porventura Deus me conceder

como a ti, o mesmo merecimento,

Ele nos unirá no plano celestial.

13 de abril de 1997

13 de abril de 2007

Uma década decorrida

Que minha esposa Geralda

Repentinamente faleceu,

Mas só a matéria morreu,

Porque seu espírito vive

Em mim e seu lar permaneceu.

Sua foto na sala ficará

Porque ela é a Rainha do lar

E meu coração ainda é seu

E ela nele continua viva,

Não O posso retirar.

Os espíritas aconselham

A foto de mortos recolher

Para eles ao céu se incorporar.

Recuso-me a assim proceder,

Seria destronar a Rainha do lar.

Muito falhei no meu amor por ela

E não posso continuar a falhar,

Desfazendo-me de sua foto

Quando ela ao nosso lado quer ficar.

Coloco flores e oro no seu túmulo,

Pedindo a Deus para a iluminar

E lhe dar guarida no Seu Lar,.

A ela cabe escolher onde morar.

Iran Di Valencia
Enviado por Iran Di Valencia em 06/05/2007
Reeditado em 29/05/2007
Código do texto: T476786