De mãe para mãe

Romeu Prisco

Hoje vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão, contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da FEBEM em São Paulo, para outra dependência da FEBEM no interior do Estado.

Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência.

Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação, contam com o apoio de comissões, pastorais, órgãos e entidades de defesa de direitos humanos.

Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto. Quero com ele fazer coro. Enorme é a distância que me separa do meu filho. Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos, porque labuto inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.

Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente, num assalto a uma videolocadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia, para pagar os estudos à noite.

No próximo domingo, quando você estiver se abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo.

--------------------------------------------------------------------------------

N.A.: Neste Dia das Mães, estou republicando o texto supra, em modo carta, uma ficção-realidade, intitulado "De mãe para mãe", que, de certa forma, acabou se tornando um dos carros-chefe da minha produção literária. Clonado, plagiado e repassado como sendo de AD (autor desconhecido), circulou por um sem número de listas e grupos das mais variadas naturezas. Foi publicado em jornais e revistas virtuais e impressos. Passou por diversos fóruns de debate. Foi lido nas emissoras de rádio Jovem Pan e Bandeirantes, nesta no "Jornal da Band", comandado por Salomão Ésper, onde sua verdadeira autoria foi divulgada graças à interferência do amigo e poeta Ógui Lourenço Mauri, que, de Catanduva, SP, ouvindo o programa, se apressou em enviar uma mensagem àquela estação, restabelecendo a verdade. Sua primeira publicação ocorreu em 07.04.2005. Enfim, por estes e outros motivos, acredito que a presente republicação fique plenamente justificada.

--------------------------------------------------------------------------

Respeite os direitos autorais.

Visite:

www.lunaeamigos.com.br/prisco/prisco.htm

www.recantodasletras.com.br/autores/romeuprisco