MENSAGEM DE DESPEDIDA AO MEU PAI

Boa Noite!

Hoje 03 de agosto de 2019 (sábado), recebi a notícia do falecimento de meu PAI o sr. Raimundo Rodrigues da Silva, e resolvi prestar uma homenagem simbólica para demonstrar o quanto o respeitava e o amava.

MENSAGEM DE DESPEDIDA AO MEU PAI

Lembrarei do senhor do tempo em que vivi e convivi convosco aí na cidade de Oriximiná, período compreendido de 1964 a 1982, que vai do meu nascimento até a minha partida para a cidade de Belém, para tentar uma vida melhor como muitos conterrâneos nossos, também fizeram. A título de curiosidade comparativa, penso que assim como meu pai, também sou muitas vezes incompreendido por nossos familiares e até por alguns amigos, mas não tem como negar que assim como o senhor antevia eu também consigo antever, claramente coisas que ainda vão acontecer, e é isso que muitas vezes incomoda e perturba pessoas de nosso convívio, essa capacidade natural que Deus nos deu e que alguns chamam de DOM.

O DOM de observar os fatos, processá-los e interpretá-los, muita coisa que disse as pessoas mais próximas de mim, durante esse período em que vivo fora de minha cidade natal “ORIXIMINÁ”, já aconteceram e isso me acalma e me dá serenidade e a certeza de não estar sendo injusto com ninguém.

Um dos principais ensinamentos seus que está impregnado em mim e que prezo e respeito muito é a PROBIDADE. Não há um só Real nas coisas que possuo que não seja advindo do meu próprio esforço, do meu suor, ganhado de maneira lícita, sem precisar prejudicar ninguém.

Tenho a minha consciência tranquila de que o que pude fazer pelo senhor e pela mamãe, desde quando ainda estava por aí em Oriximiná, FIZ. Num tempo em que ninguém mais fazia, FIZ.

Lembranças que carregarei por toda a minha vida:

- Não recordo a data exata, mas lembro-me muito bem do dia em que vim para Belém, nesse dia o senhor pediu que eu fosse levá-lo ao local onde o senhor costumava caçar, e, quando chegamos a local de destino, parei a bicicleta, o senhor desceu, deu alguns passos, virou-se e me perguntou. “Você vai mesmo embora para Belém, meu filho?”, fiquei calado, engasgado de peito apertado, não consegui responder e parti, porque se fosse pensar sobre o que me foi perguntado pelo senhor, com toda certeza não teria vindo para Belém.

Por anos sofri muito, porque juntos, além de alguns trabalhos que o senhor me colocava como seu ajudante para ganhar algum dinheiro, fazíamos muitas caçadas e pescarias, que por sinal não eram com fins esportivos ou de lazer, mas, de fins econômicos, de subsistência, tinha a ver com o sustento de nossa família, nessa época eu era apenas um garoto, mas, já compreendia muito bem esse fato. Hoje adulto, casado e pai de dois filhos, percebo o quanto o sr. Abdicou de muitas coisas para criar seus onze filhos;

- Lembro-me também de um dia quando fomos caçar e a estrada estava coberta por uma tapete vermelho de formigas e o senhor colocou-me sobre os seus ombros e caminhou por sobre aquele tapete vivo e ne colocou em segurança do outro lado;

- Também recordo-me, quando fomos tirar lenha por traz de uma das ilhas, a Jacitara, colhemos mel de abelha, inclusive. Porém, quando voltávamos o Rio Trombetas estava com as águas muito agitadas e o senhor com pena de um homem que estava remando rumo a cidade contra o rio revolto, o senhor ofereceu rebocá-lo, o que de pronto não concordei com a sua atitude. Por que tinha plena consciência de que poderíamos naufragar, mas, o senhor insistiu e jogou a corda aquele desconhecido e conforme eu imaginara a nossa embarcação, devido ao atrito das ondas entre as duas embarcações encheu de água e tivemos que saltar para dentro do rio, ali, perdemos parte da carga de lenha, todo o mel de abelha, o machado, o terçado e o que foi pior, que além de termos que desalagar a embarcação ainda tivemos que voltar remando porque entrou água no motor e ele não podia mais funcionar;

- Lembro-me ainda de uma outra vez que fomos pescar eu e o senhor e o seu Didico e o filho dele. Vocês nos deixaram em nossa canoa amarrada a uma árvores e seguira só vocês dois o senhor e o seu Didico, para localizar cardumes de tucunaré e pesca-los, como nos deixarem com duas linhas e algumas iscas vivas, acabei tendo a sorte de pescar um tucunaré açú e quando vocês retornaram, não haviam pescado nada. Envergonhado o seu Didico, deu meia volta na canoa dele e vocês seguiram para tentar a sorte em outra área, e quando voltaram dessa outra tentativa, trouxeram bastante tucunaré, só que eram miúdos, na média de 1,2 Kg cada, enquanto que o que eu havia pescado, pesava algo em torno de 6,0 kg. Bem essa história teve um desfecho desagradável, porque na hora da partilha o seu dedico levou o tucunaré que eu havia pescado. Isso me partiu o coração e lembro que desabei em choro e o senhor ficou muito desconfortável.

Resolvi escrever estas recordações, por considera-las uma parte importante da minha infância, pois foi dessa convivência com o senhor que formei o meu caráter, só que fiz algumas adaptações, como só ajudar aos outros se não me trouxer prejuízos.

Vá em paz meu pai! Saiba que o senhor foi um grande homem, que dentro de sua simplicidade fostes GRANDE. Desejo-lhe que Deus o receba de braços abertos e lhe conceda o descanso eterno e merecido.

Peço que me abençoe de onde estiveres.

JOSÉ MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA

Seu 7º filho dos 11 que gerou.

Ananindeua, em 03 de agosto de 2019.

Véspera do Círio de Santo Antônio

Em Oriximiná (Pa).

Mario Teixeira Orix
Enviado por Mario Teixeira Orix em 03/08/2019
Reeditado em 03/08/2019
Código do texto: T6711808
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