Reverso


Nossos corpos em outros corpos.
Nossas bocas em outros beijos,
as mãos nossas em outras.
Nossos olhos em outros,
nossos caminhos em outro trecho
é quase desfecho
da peça inacabada.
Nossas vidas em outras,
as nossas palavras em outros ouvidos
é quase que martírio,
o fenecer de um ramo de lírio.
Nossas saudades sem motivos
por amores que não os nossos,
são quase que secos poços
na sede faminta de solidão.
Nossos sonhos em outros,
nossos caminhos em outras estradas
sem luz, sem sol, sombreadas
é mera, pura falsidade.
Meus poemas sem os olhos seus,
toda sua vida, sem, sem os meus
é fatídico, ingênuo, malicioso.
Nossas buscas sem nossos encontros
pelas esquinas com outras esperas
são, quase, pedaços, quimeras,
que tentamos desafogar,
mas, mais ainda fugimos,
espaçando-nos na liberdade
nua e crua,
que unicamente nos leva
a perdulários pensamentos
do que fomos,
sem que...
Um dia me esqueça
como nunca, nunca...
Hei de esquecer você.