Espera


Há de vir,
com suas luzes cinzentas,
suas nuvens sem direção,
antes que eu encontre meu lar.
Há de vir
este amanhã,
pelas estradas a dois,
a dois passos dos finais
das manchetes de jornais.
Há de vir
pelas mesmas ruas,
sem esquinas,
a poucos passos das festas,
daquelas serestas,
pela última vez entoadas,
pelos lenços brancos.
Há de vir,
sou fruto da espera,
sem gosto, sem sabor,
apenas sutilmente amargo.
Este amanhã
encastoado pelas pedras
sem cores,
aguarda o momento
para repousar
na véspera de qualquer noite,
sem que saibamos,
sem que acabemos
o mesmo poema,
sem início nem finais,
apenas, solitude
pela estrada a dois,
a poucos passos dos finais.