Catedral


A sombra cobre o estreito da vida,
onde a catedral sem sino,
no silêncio da tarde,
procura e encontra na saudade,
no último raio vespertino,
entre a folhagem seca que caía,
o sopro de momentos anteriores.
A sombra faz a mistura na noite,
hoje amiga, cúmplice nos crimes,
nas subidas em rampas íngremes
onde os pés também sangraram,
enquanto as mãos falavam na poesia
e gravaram no calendário mais um dia,
corrompido pela hora,
deflorado pelas ânsias, enquanto em silêncio,
a catedral não bailava mais o sino.
Mas, as folhas iam caindo,
a saudade indo e vindo
e tudo acontecendo na mágica do pensamento,
na sensação de estar aqui,
estar em tantos outros lugares,
talvez no pensamento dela,
silenciando seu barulho.
Mas, o dia já vem, a máquina,
engrenagem do tempo, não sai do trilho,
tudo se repete e ele passa com seus barulhos,
fumaça, água, burburinho.
Um dia esqueço e não acordo,
durmo sobre os trilhos,
durmo na vida, no tempo,
enquanto caem as folhas de outono,
nesta catedral que não toca mais os sinos.