Inexistência




Inexisto,
sim, inexisto nas pessoas,
nas coisas, nos atos.
Salto em qualquer parada,
estendo minha sombra na estrada
sempre a frente,
sem saber se é manhã ou tarde.
Inexisto em festas, fantasias,
em você, onde creio, nunca estive.
Sempre fui alheio,
fizeram-me pelo tempo
passaporte sem vistos,
sem chegadas, sem saídas.
Inexisto nas fotos,
nas pausas da família,
no sono que descansa,
no trabalho em hora certa,
nos domingos, feriados.
Inexisto nas procuras, nos valores;
nunca participei dos leitos, dos amores.
O tempo já se apaga
e antes que venha o medo
pelos descaminhos e causas,
as solidões, angústias,
o passageiro de qualquer parada
procura a sombra na estrada,
refaz no milagre do pensamento
tantas viagens,
hoje, purificadas miragens,
lança-se para coragem dos covardes,
para a liberdade dos vencidos.
Tudo sem perdas, sem lágrimas,
sem tantas saudades.