Que não se apague


As coisas se confundem em meu passado.
As cores se vestem pelas manhãs,
os amores se despem pelas noites,
as vidas se trocam pelo pecado.
Se confundem as palavras ditas;
na mácula do véu, a lágrima,
pela última página escrita,
pelo último aceno de mão amiga.
E na mecha branca do cabelo,
a vida se espelha na lembrança
da imagem, o ponto centro que se pende
ao adeus que a boca aflita não atende,
a saudade que avança e prende
a recordação que nuca será morta,
por mais que o tempo passe,
pelo tempo que se espaça.
Estarei sempre com este passado
confuso, de coisas estranhas
bailando feito fumaça,
traçando inesquecíveis lembranças,
fazendo saudade, ser saudade de gente que se foi.