Tarde de domingo

Naquela tarde de domingo, eu e meu esposo estávamos no quintal, de repente o beija-flor pousou na flor e meu esposo conseguiu fotografá-lo, mas logo, logo, o beija-flor voou.

Naquele dia 28 de março de 2021, eu estava melancólica, tristonha ainda lembrando da perda de minha diretora Edineuza Carneiro de Paiva, então fazia vários questionamentos e meu esposo sempre muito solícito tentava me acalmar.

Recordo-me que perguntei: Quem será a próxima vítima dessa terrível doença? Até parecia que estávamos vivendo um pesadelo, queríamos acordar e não acordávamos, porque infelizmente, era real.

Subi, então, meu esposo ficou lá no quintal, continuou fotografando as flores e nesse nostálgico momento escreveu o seguinte poema:

Labigós nuas, cinzentas

entre flores se rastejam

Libélulas empinam bumbuns ao sol ardente.

E o grilo canta, incomoda a gente.

Formigas inquietas

Se escondem no estrume e picam fortemente.

A rosa nasce, flori e murcha.

O lírio desperta.

O venta balança e quieta.

Minhocas, húmus, fertilizantes.

Os jabutis dormem feito gente.

E o menino joga, joga na Net.

E o beija-flor vem passeia, come o néctar e sai rapidamente.

Passou o resto do domingo, chegou a segunda, chegou a terça (30/03/2021), na tarde da terça o poeta partiu e deixou-nos a lamentar, a chorar, a perguntar, a não aceitar sua saída de cena tão repentina sem tempo para despedidas.

O poeta Carvalho Júnior, o nosso menino do rio, o nosso homem tijubina agora recita versos no céu como um verdadeiro versicultor, como assim se autodenominava.

Marinalva Almada e Valter Alves da Silva
Enviado por Marinalva Almada em 16/04/2021
Reeditado em 28/03/2024
Código do texto: T7233696
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