FALA SÉRIO... EU?

FALA SÉRIO... EU?

ANA MARIA RIBAS BERNARDELLI

UMA REFLEXÃO DE GRANDE VALOR PARA OS PEREGRINOS DA TERRA.

Na sociedade contemporânea somos condicionados a conceber humilhação como uma experiência distante do cidadão bem sucedido. A idéia de humilhação está intimamente ligada a uma condição que só se torna real quando o indivíduo é rebaixado publicamente diante de seus pares. Humilhação, para muitos, é um efeito cuja causa está ligada a um desempenho medíocre nos padrões culturais de sucesso. Dos atributos inerentes ou conquistados pelo ser humano, fala-se muito em cultura, honra, sucesso e capacidade de superação. Todos esses requisitos são desejáveis na experiência pessoal. A humilhação, no entanto, é vista como uma vilã, a usurpar do homem a honra que lhe é devida como coroa da criação.

Não obstante, a humilhação é condição inerente à espécie humana. Nada se fez para tê-la e nada se pode fazer para deixar de tê-la. Do nascimento à morte, ela nos acompanha nas melhores e nas piores situações, das mais altas às mais baixas camadas sociais. Desde a queda no Jardim do Éden, quando pecaram os nossos primeiros pais, a humilhação está entranhada na existência humana.

A humilhação não depende do desempenho de habilidades humanas ou da estratificação social. Ela existe de forma independente, mas só pode ser substantificada por uma visão espiritual mais ampla. Só o homem espiritualmente evoluído consegue captar a companhia constante da humilhação, não de forma objetiva, mas de forma subjetiva, na experiência pessoal e diária.

Ela está presente nas relações interpessoais do homem com Deus e com o Universo e ocorre muito mais na verticalidade do que na horizontalidade. Trocando em miúdos: a humilhação existe em decorrência do fracasso do homem como um ser criado por Deus para servi-lo, e não do fracasso do homem em relação a qualquer habilidade social para servir ao seu projeto pessoal.

A humilhação é o alicerce e o teto da nossa casa terrestre, do tabernáculo da nossa habitação. Humilhação é a matéria em que se tornou o nosso corpo contaminado pelo pecado de Adão, o pecado original que injetou a decadência física, a precariedade e finalmente a morte, em toda a criação. Por causa disso, “toda a criação geme e chora, aguardando o Dia da Redenção."

Humilhação é herança terrena, é modus vivendi que acompanha a trajetória existencial dos organismos vivos, desde os mais simples até aos mais complexos. Pode ser encontrada, reconhecida e identificada na ameba e no homem, e ambos sofrem a sua ação predadora, inclusiva e intrusiva.

Qualquer ser vivo se humilha debaixo da potente mão de Deus, mas o homem encontra grande dificuldade para se reconhecer humilhado. Por isso, às vezes, Deus escolhe alguns meios para nos fazer lembrar a condição da nossa humilhação. Seja você cientista, político, médico, jurista, magistrado ou legista, um dia, todos teremos que nos curvar à condição da nossa humilhação.

Os projetos humanos podem nascer belos, perfeitos e grandiosos. A trajetória do homem pode ser um sucesso de conhecimento, de honra e de ascensão. Contudo, o que hoje está no apogeu, um dia, não escapará à decadência, à morte, à extinção. Isso é humilhação.

A humilhação está relacionada aos jovens e aos velhos, aos ricos e aos pobres. Ela viaja num Fiat 147 amarelo ou numa S10 branca, numa carroça ou num avião. Ela reside no Jardim Cruzeiro em Cruzeiro, e na Avenida Paulista, em São Paulo. Ela veste quem pode ter um Giorgio Armani e quem nada tem para vestir. Ela é um elemento intrínseco na constituição física dos doutores e dos miseráveis, dos que criam leis e as executam, como também dos que sofrem a pena dessas leis.

A humilhação é eclética, não escolhe caneta ou enxada. Se vc se inclui no grupo dos seres vivos, ainda que seja racionalmente privilegiado, o seu corpo de humilhação não difere muito do corpo de humilhação de uma ameba, de um gato, de um cachorro. Ambos estão condenados à extinção, e junto com ela, toda honra e toda glória humana também será extinta.

É importante que tenhamos uma boa consciência da nossa porção de humilhação, até para que não pensemos de nós mesmos, mais do que convém. Um exercício de humildade no reconhecimento do nosso corpo de humilhação não nos seria de pouca valia. Ocasião para isso não nos falta. Há humilhação demais em todas as circunstâncias provisórias dessa vida.

Há humilhação quando estamos doentes, mas também há humilhação quando estamos saudáveis. Há humilhação quando estamos com fome e há humilhação quando estamos satisfeitos. Há humilhação quando falimos a empresa, mas também há humilhação quando a fazemos prosperar . Há humilhação quando perdemos a política e há humilhação quando ganhamos a política. Há humilhação quando pagamos as contas e há humilhação quando não conseguimos pagá-las. Há humilhação quando sepultamos um filho e há humilhação quando o concebemos.

O DNA humano coletivo tem a marca da humilhação, da precariedade e da morte. Todas as coisas concernentes à vida do corpo e da alma tem o selo da finitude.

Diante desse quadro desalentador, que diremos à vista dessas coisas? Felizmente, Deus tem o remédio para nos resgatar dessa perspectiva tão sombria! Vejamos o que Ele diz em sua Palavra: “ Mas a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de subordinar a si todas as coisas.”

Ele também diz “não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai, há muitas moradas.” Essa morada inclui todo o nosso ser. Contudo, não levaremos para o céu nada que contenha o selo do provisório. O nosso corpo de humilhação será transformado para ser igual ao corpo de glória do Senhor Jesus Cristo. A qualidade de vida que vamos ter é a mesma qualidade de vida inerente, cujo poder ressuscitou o Senhor Jesus de dentre os mortos.

Meu amigo, meu irmão: não sei se vc acredita na Palavra de Deus. Se vc não acredita, ainda terá que admitir como verdadeira a precariedade da sua condição de vida, porque essa é a nossa experiência pessoal e diária. Não é preciso muitas elucubrações filosóficas, basta render-se às evidências.

Mas eu espero que vc creia na Palavra de nosso grande Deus. Ela traz alento, remédio, esperança, força e coragem para continuarmos os dias da nossa peregrinação nesta terra, até que sejamos conduzidos à Pátria definitiva, com um corpo glorioso, aonde estaremos para sempre com o Senhor.