MEDITE NA PALAVRA DE DEUS TODOS OS DIAS. (LEIA A BÍBLIA)

Mês da Bíblia

Nós já estamos no mês consagrado à Bíblia, e é importante nos concentrarmos neste tesouro da bondade, da liberalidade e da sabedoria divina, que nos auxilia a caminhar neste mundo, rumo ao Pai, na força da Palavra.

A Palavra de Deus nunca é, simplesmente, transmissão de conhecimentos. Ela penetra na vida, na interioridade da pessoa, como um convite imediato para o diálogo, tornando-se transformante para aquele que aceita ser um interlocutor.

Expressando sua Palavra, Deus sai do eterno silêncio e entra na nossa audibilidade, no nosso mundo de sons e de sinais gráficos, para tornar possível o diálogo com Ele. A sua infinita bondade nos concede a capacidade de entendê-lO e de Lhe responder. Ele desce ao nosso nível...

A Palavra divina é sempre eficaz, verídica e infalível. Através dela o mundo foi criado: “Deus disse [...] e assim se fez” (cf. Gn 1). Cada criatura é obra de uma palavra do Senhor e, por isso, uma mensagem dEle para nós. Quando Jesus fala aos Apóstolos: ”Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12) ou “Dou-vos a minha paz” (Jo 14,27), Ele próprio produz essa luz e essa paz em nós.

O profeta Isaías resume perfeitamente o poder da Palavra divina: “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não torna a mim sem fruto; antes, ela cumpre a minha vontade e assegura o êxito da missão para a qual a enviei” (Is 55,10-11).

A Bíblia permite que sejamos transformados pela sabedoria de Deus, revelando-nos a verdade, que o intelecto humano jamais teria a capacidade de intuir. Por exemplo, o ser humano representa um mistério para si mesmo, por ser contraditório, na atual situação. Tendo Deus nos criado completamente bons, pois dEle não pode se originar o mal, é a Palavra divina que esclarece o enigma, cuja causa remonta à queda original, com o conseqüente enfraquecimento da vontade humana. São Paulo expõe claramente esta realidade, a partir da própria experiência pessoal: “Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim” (Rm 7,19-20).

A Palavra interpreta a nossa história, a partir das intervenções divinas, que sempre encerram uma mensagem para o seu povo, como na marcha de Israel pelo deserto, e no Mistério Pascal de Cristo. Esses acontecimentos históricos interpelam a nossa fé.

Porém, o que Deus mais revela na Bíblia é a própria identidade, a sua intimidade. Apresenta a si mesmo, manifesta seu mistério recôndito, revelando o próprio nome: “Eu sou aquele que é, que foi e que será sempre o mesmo” (cf. Ex 3,13-15). Revela, depois, seus atributos como Legislador e Juiz: “Com efeito, Iahweh será o nosso juiz, será o nosso legislador, Iahweh será o nosso rei: Ele nos salvará” (Is 33,22). Sobretudo, Ele nos ensina a chamá-lo de Pai: “Serei para vós um Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas” (2 Cor 6,18). Nós não teríamos a ousadia de nos declararmos filhos e filhas de Deus, se Ele mesmo não no-lo tivesse revelado, através de sua Palavra: somos objetos de sua escolha de infinita bondade.

Assim, Deus nos manifesta seu plano de amor, escondido desde toda a eternidade, e revelado nos últimos tempos, isto é, nos tempos da Redenção. Este plano é formar o povo de sua eleição, agregando-o, transformando-o e santificando-o pela Palavra, da qual este povo torna-se o depositário e o primeiro ouvinte.

Os intermediários dessa Palavra, aos quais Deus outorga a autoridade de falar e escrever em seu nome são, respectivamente, os profetas e os autores sagrados, ou hagiógrafos. A Sagrada Escritura possui 73 livros, todos oriundos da tradição oral, conservada nas comunidades primitivas e, posteriormente, colocada sob forma escrita. Graças a isto, hoje usufruímos da beleza e do ensinamento dessas mensagens, cujo conteúdo, divino e sublime, nos é acessível pela linguagem humana.

Apesar de todas as iniciativas divinas, Israel ainda não havia compreendido plenamente as ações e palavras do Criador: “Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,1-2). Naquela etapa evolutiva da história da Salvação, Deus nos mandou seu próprio Filho, como mensageiro que se fez Homem: “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5). Dali para frente, a Palavra Encarnada tornou-se definitiva, aclarando o que havia sido revelado no Antigo Testamento. Consubstanciado nos 4 Evangelhos e explicitado nos demais textos do Novo Testamento, o ensinamento de Jesus abrange os grandes temas, que tentaremos resumir.

Em primeiro lugar, Ele veio nos falar do Pai, que descreveu como “meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17), de tal maneira que nós, como filhos e filhas, não podemos deixar de amá-lO. Ele faz chover sobre justos e injustos (Mt 5,45), está sempre pronto a acolher e perdoar (Mt 6,12), aguarda-nos com ânsia na sua morada, a pátria celeste (Lc 15), para nos premiar pelos dons que nos deu e nós fizemos frutificar (Mt 25,14-30).

Jesus também nos fala a respeito de si mesmo. Ele é a 2ª Pessoa da Trindade (Jo 1,1), enviado pelo Pai como Salvador (Jo 1,12), nosso Mestre (Mt 23,8), que nos promete o Espírito Santo (Jo 14,26), e também Aquele que nos ensina como devemos amar nossos irmãos e irmãs (Jo 13,34-35). Temos em Cristo o Irmão primogênito, ainda que adotivo, porque nos elevou à condição de filhos e filhas do mesmo Pai, pelo seu sangue, derramado na cruz.

Ao término de sua vida em meio aos homens, Cristo revelou a Pessoa do Espírito Santo. Durante a Ceia derradeira, deixou-nos um longo discurso sobre este Espírito de amor e de verdade, nosso Advogado e Consolador (Jo 14,15-26), cuja vinda foi descrita por São Lucas (At 2,1-41).

Finalmente, Jesus nos deixou a Igreja. Nós já a reconhecemos, em germe, no Antigo Testamento, pela escolha do povo eleito, com o qual Deus fez Aliança e ao qual acompanhou ao longo de sua história. Jesus funda a Igreja, definitivamente, e a ela dedica longos discursos, com imagens como a do grão de mostarda (Mt 13,31-32), e da rede lançada ao mar (Mt 13,47). São Paulo compara-a a um grande edifício que vai se tornando maior e mais belo, à medida em que os homens correspondem à mensagem de Jesus (Ef 2-20-22), até o termo definitivo, quando ela se manifestará resplendente, como a esposa do Cordeiro (Ap 21,9-14).

Esta maravilhosa pedagogia divina chega até o nosso tempo. Somos os herdeiros da promessa, aqueles agraciados com o que muitos gostariam de ter visto e não viram (Mt 13,17). Mediante a plenitude da Revelação divina, que já conhecemos, mediante os ensinamentos e exemplos que nosso Senhor nos deixou, mediante a tão grande nuvem de testemunhas que nos antecederam (Hb 12,1), façamos o propósito de, neste mês da Bíblia, aprofundarmo-nos mais na Palavra do Senhor. Há que nos alimentar desse pão!

Possa a intercessão dos santos escritores bíblicos obter-nos o dom do Espírito, fazendo de nós instrumentos dóceis, vibrando ao toque do divino Artista, que nos revela o sentido escondido e divino de cada palavra que o Senhor nos fala. São palavras sonoras, harmoniosas, repletas de melodias celestiais e, até mesmo, humanizantes.

FONTE:- www.catedral.org.br/conteudo

TEXTO:- Cardeal D. Eusébio Oscar Scheid - Arcebispo do Rio de Janeiro / Arquidiocese do Rio de Janeiro