"Jesus, porém foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer ele apareceu novamente no templo, onde todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se assentou para ensiná-los. Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: “ Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o Senhor, que diz? “ Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusa-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever na terra, com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: “ Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela.” Inclinou-se novamente e continuou escrevendo na terra. Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos. Jesus ficou só com a mulher em pé diante dele. Então Jesus pôs-se em pé e perguntou-lhe: “ mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?” “ Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “ Eu também não a condeno. Agora vá e não peques mais.” João 8.
 
No capítulo 8 do Evangelho de João há um registro comovente de certo fato que foi escrito na terra, com o dedo do próprio Deus. 
 
Muito se tem especulado acerca do que teria Jesus escrito na terra. Contudo, a Bíblia é repleta de fatos simbólicos. Não devemos nos preocupar com as palavras que Jesus teria escrito na terra, mas com o simbolismo que tal fato representa para as nossas vidas.

 O capítulo começa narrando a ida de Jesus  para o monte das Oliveiras. No capítulo anterior, a Bíblia narra a passagem do Senhor Jesus pela festa judaica das cabanas, acontecimento social que ocorria no templo e para o qual afluía toda a elite religiosa da época, como também  todo o povo comum. Jesus estava ali ensinando o povo comum e o seu ensino, uma vez mais, causara dissensão entre as autoridades do templo.  
 
Depois desse fato, a Bíblia registra que “ cada um foi para sua casa”. Essa é a sentença final do capítulo 7, mas o capítulo 8 começa dizendo: “ Jesus, porém foi para o monte das Oliveiras.”
 
Por que a Bíblia registraria que “ cada um foi para sua casa” mas “ Jesus porém foi para o Monte das Oliveiras?”
 
A casa simboliza a comunhão humana, enquanto o monte simboliza a comunhão com o Pai  que só se alcança quando se deixa “ cada um em sua casa”. Não podemos subir ao monte levando em nossos pensamentos outra pessoa, outro objetivo, outra proposição.
 
Jesus subiu sozinho para o monte. É na solidão do monte que somos ensinados pelo Pai. Subir ao monte, e descer ao templo, são dois aspectos da vida espiritual. Há muitos que só experimentam descer ao templo e isso é muito doutrinário. Também é fácil demais: uma vez por semana, assiste-se a uma missa, a um culto e pronto: isso é descer ao templo. Normalmente quem faz isso não muda, permanece eternamente nos adjacências do templo. Quem tem esse costume religioso acaba se tornando meramente religioso. E os religiosos podem se tornar implacáveis com aqueles que não o são.
 
Não sei quantas vezes você terá experimentado subir sozinho ao monte. Subir ao monte era necessário para o Senhor Jesus enquanto esteve na terra como homem e como Deus.  E não o será para nós – meramente homens? Muito mais para nós que vivemos cercados pela árvore do conhecimento do bem e do mal. Tal árvore representa as escolhas que fazemos na vida. Ela traz em si tanto o bem quanto o mal. 
 
Se essa árvore fosse apenas do conhecimento do mal, seria fácil identificar quais coisas representam o seu fruto. Todo mal , em princípio nos causa repulsão. E todo bem nos atrai. Contudo, a coisa toda é essa:  Deus não aprova nem o bem e nem o mal. O bem e o mal são frutos da mesma árvore- da árvore do conhecimento do bem e do mal.  Nunca foi desejo do coração de Deus que vivêssemos instruídos pelo bem ou pelo mal. 

 O desejo de Deus, segundo as Escrituras,  é que vivamos pela  Árvore da Vida que é o próprio Cristo dispensando-se como vida a todos nós.  Fora de Cristo não há vida. Quando estamos para tomar uma decisão, devemos nos perguntar: “ o que faria Jesus em meu lugar?”

Nesse momento, lembre-mos de que o agir do Senhor não é pautado pela árvore do conhecimento do bem ou do mal. A vida que o Senhor escreve na terra, para os seus redimidos,  não é no princípio da árvore do conhecimento do bem e do mal. Apesar disso, esse é o método das pessoas religiosas. Por esse método, os religiosos têm pautado o seu procedimento e têm sido verdadeiramente zelosos do bem.

Mas Deus  nos chama para vivermos alheios ao bem, a qualquer tipo de bem, tendo como parâmetro apenas a pessoa de Cristo.  Viver por sua pessoa é permitir que o Espírito de Deus viva através de nós. Não se trata de imitarmos o que Jesus fazia na terra, mas de permitirmos que Jesus viva em nós. Não se trata de nunca pecar, mas de pecar, aplicando o sangue de Cristo - porque não há homem que não peque.   Não se trata de condernarmos o que é certo e o que é errado.  Nosso julgamento, quase sempre é implacável e por ele apedrejamos com o mesmo rigor, a nós e aos outros.
 
Assim pensaram os judeus que apresentaram ao Senhor aquela mulher- a mulher adúltera. Um símbolo de tantas pessoas adúlteras que estavam ali, mas não tinham caido na desgraça de terem sido surpreendidas em adultério. Essa lhes era a diferença.  Revelada ou escondida, a situação toda se resumia num jogo de luz e sombras.  

Matar tal mulher  seria  extremamente vantajoso: uma prova de serviço religioso completo, o cabal no tribal.  O cumprimento da lei objetiva gravada em pedras era a glória da Lei de Moisés que até hoje recebe muita reverência.
 
Felizmente para todos nós, Jesus inaugurou na terra uma lei subjetiva. Essa lei está gravada em nossos corações pelo Espírito de Deus que nos foi dado. Que grande Deus! Que maravilhoso Senhor que nos deu o seu Espírito para que em nosso interior possamos saber o que é certo e o que é errado,  não mais pela árvore do conhecimento do bem e do mal,  mas pelo seu Espírito que em nós habita! Como sou grata ao Senhor por esse Espírito que me convence de pecados que os homens não identificam, enquanto me ensina a ser misericordiosa em situações que os homens  condenam e Deus absolveria.
 
Essa é a lei escrita nos corações. Por ela,  quando “cada um for para a sua casa” podemos escolher  “subir o monte”. Por essa lei, não há caminhos impostos pela lei dos religiosos, há caminhos. Sendo que Jesus é para nós  o único caminho.
 
Até aqui já vimos a lei de Moisés gravada em pedras e a lei do Espírito gravada nos corações. Qual seria então a terceira lei?
 
A terceira lei é a lei da soberania de Deus escrita na terra com o dedo do próprio Deus. Essa lei é a lei que nos resgata quando tudo parece estar perdido, quando falham todos os mecanismos.  Por essa lei, Deus se inclina na terra e reescreve histórias que parecem estar perdidas para sempre.
 
Foi isso o que o Senhor Jesus fez quando se inclinou  sobre a vida da mulher adúltera. Ali  falhara a escrita em pedra. Nenhuma lei objetiva conseguira ser mais forte do que a lei da carne cujo princípio a mantinha escravizada e a fazia pecar voluntária e involuntariamente.
 
 Também falhara a lei subjetiva escrita nas tábuas de carne do coração. O coração da mulher adúltera – um protótipo de todo pecador - não fôra forte o suficiente para vencer a lei do pecado e da morte. A lei da carne que ainda existia em seu corpo de carne.
 
 Aos olhos humanos ela era um caso impossível.  Entretanto, quando todas as leis falharam, o Senhor se inclinou para a terra e escreveu com o dedo no chão.
 
 E o que o Senhor escreveu no chão? Escreveu a vitória sobre o pecado, a vitória sobre a lei, a vitória do amor de Deus que está absolutamente disponível em Cristo Jesus Nosso Senhor.
 
Quando falham todos os mecanismos da graça ainda resta a soberania de Deus. A soberania de Deus escreve na terra com o dedo de Deus.
 
 A escrita de Deus na terra pode vir em forma de acontecimentos que nos sobrevêm repentinamente, quando tudo parece perdido. A mulher adúltera esperava a primeira pedrada, e depois a segunda, e depois a terceira, até a morte. Mas a escrita de Deus na terra, lhe deu nova vida e vida com abundância. 

Nem sempre, porém, a escrita de Deus na terra se manifesta dessa forma confortável. O inverso também pode acontecer. Pode acontecer que a escrita de Deus na terra contrarie os nossos planos, aborte os nossos sonhos, ponha um fim às nossas ilusões. Pode ser que a escrita de Deus na terra seja para nós uma declaração de guerra interior. Mas, ainda assim, ela é a escrita de Deus na terra. 

Os métodos de Deus quase sempre nos surpreendem. Viramos uma esquina e nos deparamos com a escrita de Deus na terra. Num domingo qualquer, vamos ao templo, e lá nos deparamos com a escrita de Deus na terra. O telefone toca e do outro lado a voz nos informa que Deus escreveu de novo na terra. Por uma palavra, por um acontecimento, por uma notícia na televisão, por uma afronta, por uma tragédia, de repente, nos chega mais uma escrita de Deus na terra.
 

Não é fácil reconhecer o dedo de Deus escrevendo na terra quando os nossos sonhos são contrariados. Não é fácil reconhecer que  “ todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Entretanto, a Bíblia nos exorta a reconhecer a soberania de Deus como sendo "a boa e perfeita vontade de Deus para as nossas vidas."
 
Para isso, seria útil partirmos da premissa de que vida não se restringe apenas ao espaço de 70, 80 anos que possamos ficar aqui, mas vida é a eternidade, é o espaço de tempo compreendido antes de nosso nascimento no planeta terra, até depois de nossa partida para o lar celestial, onde estaremos para sempre com o Senhor.
 
 Vida é atemporal. Se compreendermos esse fato e não duvidarmos da bondade de Deus, do seu amor incondicional, tudo quanto nos sobrevir será mais suportável porque  não o suportaremos com as nossas forças, mas com a força de um Deus  que se inclina para escrever na terra,  histórias que os homens só compreenderão  no céu! 

E se não compreendermos esse fato, ainda assim essa será a escrita do Senhor na terra.

      “ O que eu o faço não o sabes agora, compreendê-lo-ás depois.” João 13:7

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* A imagem é da Comunidade Evangélica que nasceu em minha casa, cresceu, e hoje ocupa o maior templo da cidade.  
 
Ana Ribas
Enviado por Ana Ribas em 02/11/2008
Reeditado em 02/11/2008
Código do texto: T1261601
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