Suicídio: “Redescobrindo o Significado da Vida”

“O que me aconteceria se suicidasse”?

Certa vez alguém me fez esta pergunta, cogitando o suicídio alegando ter perdido as razões para viver. Contou-me ainda que alguns de seus amigos de infância cometeram suicídio, motivados por desilusões diversas.

No mundo moderno a vontade de acabar com a própria vida cresceu bastante entre jovens e adultos desesperados. Ele, a exemplo de multidões de desesperados, supunha que a morte seria o fim, um mergulho sem retorno ao nada. Olhei para o céu e lhe perguntei “o que são nuvens?”, ele respondeu “são água” e “o que é um rio?”, ele disse “é água também .

Disse-lhe que “morre o rio” para “nascer a nuvem”, e que depois “morre a nuvem” e “renasce o rio”, mas que a água em si mesma não morre. Ele compreendeu que a mente assume formas temporárias, mas que jamais morre.

Ele insistiu dizendo que se a morte não é o “nada”, mas renascimento, então o suicídio traz a vantagem de finalizar uma existência “sem valor” dando-lhe a chance de “começar do zero”.

Tudo que existe tem valor, embora nem sempre sejamos gratos e não existe “recomeçar do zero”, há sim uma continuidade. Recomeçar do zero é uma idéia enganosa. Colhemos os frutos de nossas ações passadas e continuamos a jornada. Como chamam os tibetanos os seres são um “continuum mental”.

Embora o suicídio seja uma atitude de desprezo pela condição humana, o estado do suicida no “pós- morte” é variável. Não é uma situação padrão. Convém esclarecer que suicídio, não é apenas o retirar subitamente a própria vida. O não uso ou abuso do corpo são suicídio de longo prazo. As pessoas prejudicam-se muito nesta vida e acabam renascendo cheias de aflição.

Pedi ao jovem que meditasse nesta parábola:

“Dois trabalhadores cultivavam os campos de uma fazenda. Ao fim do dia, o primeiro trabalhador devolve sua enxada quebrada e o campo mal cultivado. O outro trabalhador devolve sua enxada bem conservada e o campo cultivado. O dono da fazenda é um homem justo, avalia a situação e recompensa a ambos. O primeiro trabalhador fica com a enxada danificada e algumas poucas moedas, o trabalhador diligente recebe uma enxada perfeita, além de grande quantia em dinheiro. No dia seguinte, ambos recomeçam o trabalho a partir de onde pararam- cada um com sua enxada”.

O dono da fazenda é a Lei de Causa e Efeito que dá a cada um os frutos de suas ações. É um “recomeço” e não um “começar do zero”. Ambos reiniciaram o trabalho a partir das conseqüências de suas atitudes anteriores.

O “x” da questão é: o suicídio não permite a fuga da vida ou dos problemas, pelo contrário, continuamos vivos e com outras aflições, talvez bem piores que as atuais. A morte é igual chuva de verão. É uma experiência que dura alguns instantes, causa um pouco de confusão, mas logo, logo passa e no caso da morte percebemos o engano, constatando que este conceito é uma farsa.

O verdadeiro modo de acabar com o “eu” é priorizar os “outros”. Matar o corpo nada resolve. Matar nossas ilusões limpa a mente e nos revela o verdadeiro sentido da vida que é nada esperar dos outros, mas trabalhar para si mesmo e servir a todos os seres sencientes com alegria e compaixão.

Gostaria de lembrar aos que acalentam secretamente em suas mentes, a vontade de acabar com a própria vida, que sua morte trará decepção, desespero e dor para muitos e, sobretudo, para si mesmo e que manter-se vivo e vitorioso poderá ser percebido como fonte de inspiração, alegrando e aliviando muita gente, ajudando as outras pessoas a libertarem-se de seus medos e ilusões, seguindo com passos firmes, conduzindo-se rumo à iluminação.