Sofrimento

O sofrimento, desde sempre, vem sendo vivenciado, observado, experienciado, enfim, vem compondo a Vida de todos ao menos em alguns momentos da jornada terrestre.

Já pensou como toda a existência parece vergar-se em dor em cada episódio da grande aventura de existir?

Os minerais bailam no ritmo próprio de seus limites, lentamente, por séculos, milênios, aperfeiçoando-se continuamente. Sabemos dos eventos telúricos, do magma vulcânico, do manto móvel no leito dos aceanos, nas fendas que se trituram à dança das placas tectônicas.

Os vegetais exibem sua força por décadas, imóveis porém ativos no concerto das múltiplas relações dos ecossistemas que compõem. Suportam hóspedes de todos os quilates, devorando-lhe folhas e frutos. Imiscuem-se nas sujidades do solo buscando o fluido abençoado da Vida.

Os animais lançam-se com sua grande capacidade de sobrevivência nos embates constantes com que o meio ambiente testa-lhes a capacidade de adaptação, numa constante batalha em que se arriscam todo o tempo, depredando e sendo depredados.

E nós, seres humanos, cá estamos em meio ao combate com que nos afinemos. Existem guerreiros empunhando armas, lavradores empunhando alfanjes, operários empunhando ferramentas, intelectuais empunhando livros, e mais toda sorte de evolucionários na seara de seu burilamento interior. Todos, sem exceção, travam a luta de sua Vida, cada qual com seus combates e, ao mesmo tempo, comungando da lide que a todos toca. De fato, quem não enfrenta a mentira, a inveja, o despeito, a aleivosia, quando não a maldade direta, a ofensa, a calúnia, a agressão moral ou física?

Quem passa pela Terra sem que, em algum momento, tenha diante de si a dor, o medo, a ansiedade, a desolação?

O sofrimento, seja dos minerais, seja dos homens, parece mesmo a tônica do aperfeiçoamento nesta dimensão da Vida.

Mas não sejamos pessimistas.

Sempre e sempre a dor é a mola propulsora de fenômenos inimagináveis. Tenhamos ou não noção disso, acreditemos ou não, pouco importa, a dor sempre nos embala para cima. Por mais irônico que pareça, simplesmente é assim.

Há um enunciado espiritualista muito sábio: a dor é inevitável, mas o sofrimento não. Cada milímetro conquistado na compreensão das coisas da Vida, levar-nos-á a uma absorção menos dolorosa das lições que essa Vida impõe.

O diamante é formado por imensa pressão.

As pérolas se formam por constante irritação.

As tempestades renovam a atmosfera.

A dor nos faz mais tolerantes, mais benevolentes, mais indulgentes, mais capacitados ao perdão.

As revoluções geológicas amoldam as gemas belíssimas e perfeitas dos cristais preciosos.

As seivas e haustos vegetais sustentam a vida de milhares de seres e cobrem o orbe com o manto sagrado das cores com que a primavera perfuma a Vida.

Os instintos burilados nos irmãozinhos sem plena razão bailam no homem com o encanto do cão amigo enquanto uma compreensão maior não impede a rapina dos recursos de criadouros.

Tenhamos confiança. Deus está em cada detalhe da Vida. Procuremo-Lo antes de tudo e tudo o mais nos virá.

Não tenhamos vergonha de chorar de vez em quando. A mais diamantina Alma que há habitou um corpo humano certa vez disse "Pai, afasta de mim esse cálice".

Marco Aurélio Leite da Silva
Enviado por Marco Aurélio Leite da Silva em 21/09/2009
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