COMO OS ESPÍRITAS UTILIZAM A BÍBLIA

Em geral os espíritas utilizam a Bíblia pinçando as passagens que, isoladas do contexto e da filosofia geral da Bíblia, supostamente apóiam as teorias espíritas da imortalidade da alma e reencarnação. Todos eles fazem assim, a exemplo de Allan Kardek, no Evangelo Segundo o Espiritismo, e um espírita intelectual da cidade de Mafra, no Estado de Santa Catarina, que, em seu livro, Reflexões (que trata da origem e destino da humanidade), foi muito além, utilizando a Bíblia de forma magistral, inclusive dando certo sentido aos símbolos do Apocalipse (parecendo por um pouco adventista, tratando inclusive sobre a guarda da Lei e do Sábado), para dizer que quando Jesus se refere a ressurreição dos mortos trata do retorno do estado de morte espiritual daquele que interpreta a Bíblia ao pé da letra para a aceitação da interpretação que esse senhor prega, justamente a que aceita a reencarnação, que ele diz que é o único castigo justo capaz de humilhar o ser humano, e esse mesmo também seria o único castigo capaz de levar a pessoa a crescer espiritualmente.

Isto faz com base em passagens como Mateus 8: 22, onde Jesus diz a um discípulo, o qual Ele chama para O seguir, que deixe que os mortos sepultem os mortos, pois o discípulo pretendia adiar o seguir a Jesus para depois da morte de seu pai. Então Jesus falou-lhe que devia deixar que os mortos espirituais sepultassem os mortos literais. Também utilizou passagens como Marcos 12: 26 e 27 e Lucas 20:37 e 38, onde Jesus diz que Deus não é Deus de mortos, pois nesse discurso Ele fez alusão à passagem onde Moisés disse que o Deus que ele via na sarça que se queimava, más não se consumia era o mesmo Deus de Abraão de Isaque e Jacó, dizendo como isso que Deus é o mesmo Deus que esses mesmos homens seguiram e honraram enquanto ainda vivos e que os tais permanecem vivos na memória desse Deus, embora por hora estejam mortos, mas Deus os fará ressurgir no último dia, quando Jesus voltar.

E tal linguagem de Moisés não é difícil de compreender, sendo que combina bem com a linguagem atual, pois, de igual modo, as pessoas que amamos são revividas em nossa memória sempre que as lembramos ou fazemos o bem que nos ensinaram a fazer. E, de mais a mais, quando lembramos delas, lembramos do relacionamento que tivemos com elas enquanto vivas, pois enquanto mortas não tivemos nenhum relacionamento com ninguém. Portanto, também não somos amigos de mortos, mas somos amigos e lembramos dos nossos amados e amigos enquanto estavam vivos.

Entretanto, em seu livro Reflexões, esse espírita intelectual de Mafra sonegou outras sentenças da mesma Bíblia, como em Gênesis 2:7, onde diz que a alma passou a existir em decorrência da união entre corpo e fôlego de vida, o que determina que somente na fecundação (concepção) é que passa a existir uma alma (no caso, uma nova alma se forma); como em Eclesiastes 9:10, onde diz que não há consciência, tampouco qualquer atividade no mundo dos mortos, portanto eles não estão vivos a vagar ou reencarnar; como em Ezequiel 3: 4 e 20, onde diz que todas as almas morrem (“a alma que pecar, essa morrerá”), determinando que alma não é uma coisa separada e independente do corpo; e como em Hebreus 9:27, onde diz que ao Homem (subentendendo Homem como ser humano) está determinado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo. Isto tudo sem contar a as passagens de I João 2: 2 e 4: 10 que dizem que Jesus é a propiciação pelos nossos pecados, o que quer dizer que Ele pagou por nossas culpas, pois “todos pecamos” e imitando-O cresceremos. E isso tudo ainda sem relacionar aqui um manancial de passagens bíblicas que, não somente desautorizam as teorias espíritas, como condenam sua prática e ensino.

Logo, o pagamento pelos nossos pecados não é por nossos méritos, sendo que o simples orgulho por isso já seria um pecado, más pela misericórdia de Deus que “(...) deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” – João 3: 16. E o próprio Jesus diz de Si: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” – João 14: 16. Além do mais, é sabido que jamais cresceremos espiritualmente com base em nossas próprias experiências se não tivermos uma referencial incorruptível, pos a própria Bíblia diz que “Enganoso é o coração humano, desesperadamente corrupto” – Jeremias 17: 9, sendo por isto Jesus Cristo nosso único modelo incorrupto, não nossos esforços, tampouco nossos critérios e julgamento, pois somente seremos perfeitos quando tivermos disposição para amar aos outros da mesma maneira que Ele amou, a ponto de dar a Sua vida pelos que O odeiam. Claro que Jesus não exigirá isso de nós, más que amemos até os nossos inimigos como a nós mesmos, o que Ele fará através do crescimento que dará àqueles que o seguirem.

Portanto, embora os autores espíritas mais astutos utilizem a Bíblia para autorizar seus sofismas, eles não incentivam seus seguidores a lê-la e compreendê-la, senão esses deixariam de ser espíritas, pois a Bíblia mesma diz de si que não é dada a particular interpretação, dizendo com isso que ela mesma se interpreta, com diz em Isaías 28:10.