O SUPREMO LIVRO DA VIDA

Na terça-feira do dia 27 de outubro de 2009 esbarrei com o Felipe, filho do meu primo Marcos, filho do meu tio João, irmão da minha mãe. Quando chegava na estação do trem, antes de cruzar a rua, observei que do outro lado um jovem familiar me sorria, mas custei um pouco para reconhecer, haja vista que desde o início de 2006 não o via. Trata-se de um menino nascido em Rolante, no leste do Rio Grande do Sul, mas que passa mais tempo no Nordeste do Brasil, onde sobrevive vendendo livros da Casa Publicadora Brasileira.

Intrigado por encontrá-lo em São Leopoldo, sendo que não tenho notícia do interesse dos parentes taquarenses e rolantenses por essa cidade, indaguei-lhe ao que se devia tão inusitado encontro. Ele esclareceu que se devia ao fato de que ele estava em viagem de Rolante à Porto Alegre, más, ao chegar em São Leopoldo, resolveu desembarcar na estação rodoviária local e seguir de trem à Capital. Sendo assim, seguimos juntos de trem, pondo em dia os assuntos sobre os familiares rolantenses. Após desembarcar em Porto Alegre na estação ferroviária de nome Estação Rodoviária, que fica junto a estação Rodoviária, ofereci-me para aguardá-lo na loja de celulares à qual ele ia, na avenida Voluntários da Pátria, para que depois ele seguisse comigo à loja Superbom, onde eu pegaria uma encomenda feita na semana anterior. Depois iríamos juntos o resto da Rua Coronel Vicente até à avenida Independência, quando ele seguiria à Santa Casa de Misericórdia e eu continuaria pela Rua Duque de Caxias até o viaduto da avenida Borges de Medeiros, onde ia na AGEI – Associação Gaúcha dos Escritores Independentes.

Após pegar minha encomenda na loja Superbom, examinei uma estante em busca de um livro interessante e barato – algo que custasse em torno de dez reais. E já escolhera um de seis e oitenta, mas o Felipe disse no momento que se eu lesse o que estava logo acima nunca mais me esqueceria. Erguendo os olhos, vi um pequeno livro de capa branca com detalhes azuis, cujo título em forma de logotipo dizia Projeto SunLight. Todavia, não me detive muito na capa ilustrada com o desenho de uma linda jovem, mas tomei-o e dirigi-me logo ao caixa, seguindo com certa pressa aos destinos estabelecidos anteriormente.

Depois de pegar meus exemplares de direito da coletânea de 2009 no escritório da AGEI, segui pela Borges de Medeiros em direção a Estação Mercado do Metrô, aproveitando para ler a sinopse e o prefácio do Projeto SunLight enquanto procurava caminho através da multidão. No trem pus-me escorado num vão entre um banco e a porta para ler sossegado enquanto viajava em pé. O livro de mais ou menos cem páginas tratava de uma ficção, onde Jarbas, um anjo pertencente aos Escrivães Celestiais, pede permissão ao Príncipe para acompanhar a vida de um ser humano em particular, pois tinha curiosidade sobre esses indivíduos capazes de encarar a expectativa da morte, o medo e as atrocidades do seu mundo tão inconstante e inseguro com sonhos, esperança e sorrisos. Todavia, a função de Jarbas não lhe permitia conhecê-los individualmente, somente observá-los a todos e relatar os acontecimentos que envolviam toda a sociedade. Entretanto, tendo recebido permissão para observar a vida de um em particular, o cidadão do Universo passou logo à execução de um plano pelo qual passaria a observar o primeiro indivíduo que dobrasse uma determinada esquina da Rua Ridge, da cidade de Rochester, no Estado de Nova Iorque, as dezoito horas. E, por ver o resto de sol que se escondia por detrás dos edifícios que podiam se visto sobre o ombro da jovem senhora que dobrou a esquina as dezoito e dois, Jarbas chamou-a de SunLight, passando a inteirar-se da rotina, idéias e sentimentos da mulher de uns trinta anos divorciada recentemente depois que o marido se apaixonou por uma mulher mais jovem.

Sendo que vivia amargurada, indo do trabalho para casa, onde se entristecia com o efeito da falta do pai sobre as filhas, e de casa à jantares e clubes dançantes (mas sem sentir-se feliz) com o fiel e solteirão amigo de infância, Jarbas se condoia e inquietava-se por saber quão bons pensamentos e intenções os outros cidadãos do Universo e o Príncipe tinham para com ela e suas filhas, bastando apenas que ela o soubesse, mas não via fruto no esforço do Amigo da Terra (o anjo da guarda de SunLight, com quem ele mantinha contato) que tentava fazer que algum cristão lhe contasse das maravilhas dispensadas aos seguidores de Cristo. Quando a via a fumar solitária contemplando o nada de sobre o sofá de sua sala nas frias madrugadas do inverno, Jarbas desejava romper o protocolo e falar-lhe do amor do Príncipe. Todavia, um dia o Amigo da Terra conseguiu que ela esbarrasse com Sybil, uma senhora solitária, moradora do fino apartamento no outro extremo do corredor do seu andar, a qual já cansara de procurar meios para gastar dinheiro a fim de suprir a ausência do marido especialista em ganhar fortunas, motivo pelo qual ela começara a ler a Bíblia na esperança de conhecer o Deus cristão que o companheiro dizia tratar-se de uma fantasia. Por causa da proposta de Sybil para que lessem os Evangelhos e depois discutissem o que tinham entendido, uma noite por semana elas se reuniam e debatiam quanta bondade estavam vendo no Homem Jesus que elas estava conhecendo, o qual demonstrava tanta simpatia pelos humanos a ponto de não poder se deslocar sem fazer o bem a alguém, sendo que sempre procurava a quem abençoar.

E essa leitura logo começou a produzir efeitos em suas vidas, haja vista que, tendo descoberto que para sermos felizes precisamos sentir o perdão de Deus e só o sentiremos se aprendermos a perdoar os outros, Sunlight perduou seu ex-marido, pelo que desde então já começou a sentir melhor.

Encantado por ver como as personagens do livro começavam a ver a Deus sob Seu verdadeiro prisma de amor, condescendência com as fraquezas e dificuldades humanas, pensei quão bom seria se uma pessoa cheia de problemas pudesse ler aquele livro e descobrir que Deus não é esse carrasco intolerante que, muitas vezes, os cristãos demonstram ao transitar com certo ar autoritário e inatingível. Comecei a pensar quão beneficente seria esse livro para uma pessoa bem pobre e cheia de dificuldade e como seus problemas seriam resolvidos com tanta facilidade quando conhecesse o Príncipe e descobrisse que não tinha que pagar para receber as Bênçãos do Criador do Universo.

No trajeto para o trabalho, que faço pela Rua Lindolfo Collor, sempre vejo um pequeno senhor barrigudo parado junto a um muro, trajado de roupas muito rotas e meio sujas, tendo sobre a cabeça sempre baixa um boné cuja lapa ele mal ergue para olhar os transeuntes. Imaginava que ele fosse um morador de rua trabalhando como “flanelinha” para ganhar uns trocados para a bebida. Todavia, dias atrás me admirara ver esse senhor de barba e cabelos brancos lendo o Novo Testamento. Jamais pensara que tal indivíduo se interessasse pela Palavra de Deus.

Apaixonado, porém, pela leitura do Projeto SunLight e querendo ver no que daria os debates das duas amigas sobre a Bíblia, eu ia do trabalho para casa e de casa para o trabalho a ler o livro. No segundo dia que passei por aquele senhor com o livro aberto, ele se adiantou e me abordou, perguntando logo se aquele livro se tratava da Bíblia. Encantado com sua pergunta, respondi-lhe que não era a Bíblia, más falava dela. Embora um pouco hesitante, com seu olhar acanhado, ele me perguntou se não poderia arranjar-lhe um. Pensei rápido no que fazer, lembrei do dinheiro que pagara pelo livrinho, lembrei depois da vontade que eu tinha de conhecer os próximos acontecimentos, mas, preocupado por pensar que era minha responsabilidade não deixar passar uma oportunidade tão óbvia de ajudar um sofredor a conhecer o amor do Príncipe, apenas estendi a mão e disse-lhe que lhe daria aquele mesmo. Depois que ele tomou o livrinho de minha mão, pensando ainda que teria que comprar outro exemplar, me veio à mente pedir-lhe que me devolvesse ao lê-lo. Todavia, ao ser tomado de uma certeza inexplicável de que ele o leria e era a pessoa a quem Deus estivera me impulsionando a dá-lo, apenas respondi-lhe que compraria outro quando ele me perguntou se aquele exemplar não ia me fazer falta.

Saí então eufórico e uma lágrima de felicidade escorreu por minha face ao pensar que Deus me fizera encontrar o Felipe para dar aquele livrinho àquele senhor. Por isso, enquanto caminhava, orei para que o Senhor fizesse que ele lesse. No trabalho, contei ao meu colega Cláudio, o qual é mórmom, sobre o acontecido e ele ficou emocionado. Em casa, contei para a minha esposa e ela concordou que era coisa de Deus, dizendo inclusive que gostaria que eu lhe mostrasse o pequeno senhor. Quanto a mim, porém, quase não continha a expectativa, até que no dia seguinte perguntei-lhe se já começara a ler o livro, apesar de que não vi o exemplar com ele, ao passo que ele me perguntou que livro se tratava o velho guia telefônico que me mostrou. Presumi logo que me enganara, pois o pequeno senhor não sabia ler e concluí que fora mesmo precipitado ao dar-lhe o livro quando ele me respondeu que lera um pouco, pois não sabia ler, acrescentando logo que não sabia ler muito bem.

Ciente de que entre não saber ler e não saber ler muito bem há uma certa diferença, saí conformado a pensar que Deus sabe o que faz, firmando com isto a certeza de que os dez reais que eu pagara pelo livro não tinham sido postos fora. Todavia, sobre essa última descoberta nada contei a ninguém, torcendo inclusive que as pessoas para quem eu falara anteriormente não me perguntassem mais nada. Traquilizei-me ainda mais quanto ao valor do que fizera ao recordar a história do padre que foi levado ao verdadeiro Evangelho de Cristo através de um exemplar queimado do Grande Conflito. Assim pedi mais uma vez a Deus que o fizesse ler o Projeto SunLight.

Passou algum tempo e por alguns dias não mais vi o pequeno senhor em seu ponto. Num dia da semana passada, porém, passei por ele enquanto se deslocava na calçada onde fica seu ponto, mas ele não me viu e eu não o interpelei para não ser inconveniente. Resistia a tentação de pensar que ele me ignorara e, como pensei nos outros dias, torci que, apesar de ele “não saber ler muito bem” Deus o guiasse à Sua verdadeira igreja através daquele livrinho.

No domingo passado (08 de outubro de 2009), ia eu de casa com minha esposa pela Rua Lindolfo Collor para o ponto de ônibus no Triângulo a fim de passarmos o dia na casa de minha mãe num bairro distante do Centro da cidade. Ao ver o pequeno senhor andando em nossa direção na metade da quadra a frente, comentei que ela finalmente teria a oportunidade de conhecer o velhinho do livro. Resisti, porém, ao impulso de contá-la a parte negativa da história. Quando alcançamo-lo na travessia da Rua São João, pensei que ele ia passar reto, más, ao contraio, embora com cabeça baixa, ele dirigiu-se à nós sorrindo, perguntando logo, para meu espanto, qual era o nome da igreja que freqüentávamos, ao que respondi que tratava-se da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que ficava na próxima rua que tínhamos deixado para trás, no número 621, a Rua São Pedro. Explicamo-lo, porém, que nossa congregação era no Bairro Vicentina, na rua Arno Schuk, perto de onde ele esclareceu que mora. Em resposta ao seu comentário de como certas igrejas pedem dinheiro, disse-lhe que em nossa se ensina o que está na Bíblia sem tentativa de extorquir as pessoas.

Peço neste texto e estou certo de que em breve terei o prazer de ver aquele senhor estudando a Bíblia e conhecendo a vida de príncipes que o senhor Jesus dá a viver a todo que O conhece e confia em Sua Palavra. E estou certo disso porque tenho certeza que Deus o escolheu para que eu lhe mostrasse ao Príncipe do Universo, que é Rei dos reis e dono de todo amor, de todo bem e de toda riqueza disposta a Seus amados filhos em todos os mundos.