M I S T É R I O S

A palavra mistério (transliterada do grego "musterion") é mencionada 28 vezes no Novo Testamento.

Refere-se quase sempre aos propósitos de Deus para os homens. (Quando eu falo em «homens» entenda-se «humanos», ou seja, dum e doutro sexo, mulheres e homens).

Mistério sugere alguma coisa oculta, algo que nos ultrapassa, que não conseguimos decifrar ou entender.

A nossa capacidade de percepção e de compreensão é bastante relativa. Apesar da evolução da ciência e da tecnologia... há barreiras que são intransponíveis.

E quanto mais o Homem sabe, do mundo e da vida, também mais campo desconhecido encontra, mais mistérios por desvendar.

É célebre a frase de um grande sábio: «Uma coisa sei, é que nada sei».

Cada nova descoberta traz consigo novos campos virgens, novos elementos a pesquisar, novas incógnitas...

Além de que, na sua constante, útil e meritória investigação, a ciência nada consegue criar no sentido absoluto. Ela apenas constata, analisa, relaciona, combina, utiliza e transforma a matéria, a energia... ou seja, os elementos pré-existentes.

O Criador é Deus. O Homem limita-se a ir descobrindo e aproveitando o que Deus criou.

Por isso, um cientista honesto há-de ser também humilde, pois quanto mais conhece a Natureza mais reconhece a sua pequenez perante os inúmeros mistérios da mesma. E, é claro, para um cientista teísta, estes mistérios apontam para um Grande Autor, que é DIVINO!

Isto é o que podemos dizer acerca do mundo físico. E quanto ao mundo espiritual? E quanto aos fenómenos que não se podem analisar em laboratórios nem equacionar por processos matemáticos?

Sobre esses fenómenos, e sobre todas as questões que eles levantam, a ciência é impotente e incompetente.

Ora, justamente porque o Homem não tem possibilidade de desvendar os mistérios espirituais de Deus e da vida... é que o próprio Deus se lhe revelou.

Revelar significa descobrir (retirar a coberta), manifestar, dar a conhecer.

Então, Deus revela-Se ao Homem dando-Se a conhecer e manifestando a Sua vontade e os Seus planos.

Isto na medida da capacidade de compreensão humana e das suas necessidades mais prementes.

Verificamos, também, que a revelação de Deus é progressiva: «Havendo Deus antigamente falado aos pais pelos profetas... a nós falou-nos ultimamente pelo Filho» (Hebreus 1:1)

Assim, primeiro lugar, a suprema revelação de Deus é Cristo, Cristo connosco.

O apóstolo Paulo fala do conhecimento do mistério de Deus: Cristo , em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. (Colossenses 2: 2) E diz que é seu propósito conhecê-Lo.

Conhecer Cristo para conhecer Deus e os segredos da Vida.

Deus baixou à terra como homem! Quem havia de dizer? O Verbo fez-se carne. Deus incarnou. Quem havia de acreditar?

A incarnação é um mistério que nos ultrapassa. Assim como a dupla natureza de Jesus continua a ser inexplicável.

«Grande é este mistério» - diz também Paulo. E acrescenta: «Aquele que se manifestou em carne foi justificado em espírito, visto pelos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, na glória!»

(I Timóteo 3:16).

O Verbo fez-se carne. A Palavra de Deus veio até nós humanamente. Deus comunicou-se de forma directa.

Assim:

- Quem quiser ver a Deus, olhe para Cristo!

- Quem quiser saber como Deus é, procure conhecer Cristo!

- Quem desejar saber a vontade de Deus, ouça a voz de Cristo.

N’ Ele tudo está aperfeiçoado e actualizado.

- Mais ainda: Quem quiser aliar-se a Deus, estenda a sua mão a Jesus.

-Mas quem ainda tiver dúvidas sobre algum tema das Escrituras, vá também a Jesus. Ele é o novo paradigma,

n’ Ele se estabelece um Novo Pacto. Cristo é a Palavra final. O Alfa e o Ómega. A norma, o metro padrão. Ele é o novo estatuto, a nova regra de doutrina e de conduta. Cristo está nas Escrituras mas também acima de todas as Escrituras, as quais apontam para Ele e d’ Ele testificam(João 5 : 39; Efésios 1: 21-22)

Mas o mistério de Deus tem uma outra dimensão: além de Cristo connosco, Cristo em nós. Ou seja: incarnação do Verbo e interiorização do Verbo.

Em Colossenses 1: 26-27 lemos: «O mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que foi manifestado... é Cristo em nós, esperança da glória».

Deus fez-Se Homem não só para viver ao nosso lado mas para habitar dentro de nós. Jesus disse: «Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz a abrir a porta entrarei...» (Apocalipse 3:20). E o apóstolo João escreveu: «... a todos os que O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus...» (João 1:12)

Receber Jesus é receber Deus. Ter Jesus na nossa vida é ter VIDA ETERNA, é ter paz, ter esperança.

Jesus disse: «Aquele que não comer a minha carne e não beber o meu sangue não terá VIDA em si mesmo» (João 6:53)

Comer e beber Cristo? Que é isso? Jesus esclarece: (6:63) «As palavras que eu vos disse são espírito e vida». Isto é: devem ser interpretadas espiritualmente e não literalmente. Ou seja, elas significam: assimilar Jesus pela fé, «digeri-Lo» espiritualmente. É como ter o Seu sangue a correr nos vasos sanguíneos da nossa alma. É aceitá-lo como Deus, salvador, senhor, mestre, modelo...

E, neste processo de interiorização do Cristo, não há acepção de pessoas, não há raças privilegiadas.

Os judeus julgavam-se detentores exclusivos da graça e da revelação de Deus. Eles pretendiam para si o monopólio do Divino. Mas Deus não se deixou manietar, não Se deixou amarrar nas suas mãos.

Eis, pois, um outro importante aspecto do mistério do Reino de Deus, conforme lemos em Efésios 3:4-6, acerca dos gentios (incircuncisos, imundos, pagãos...): «... que os gentios são coherdeiros de um mesmo corpo... mistério que esteve oculto desde os séculos...».

Ou seja: que o Evangelho é para todas as nações, para todos os povos. Cristo ofereceu-se a toda a HUMANIDADE. O Evangelho é universal. Mistério! Algo estranhíssimo para os judeus e para os judaizantes. Uma questão que, aliás, ocasionou muita polémica no primeiro século.

Mas Cristo connosco e Cristo em nós não é tudo. Já que o Evangelho é extensivo a todos os seres humanos, há um terceiro ponto: Cristo através de nós.

Compete-nos, àqueles que conhecemos Cristo, torná-Lo conhecido de outros.

Como disse Paulo: (Efésios 6:19) «...orai por mim para que me seja dada, no abrir da m/ boca, a Palavra com confiança para fazer notório... o mistério do Evangelho».

«Fazer notório» é desvendar o mistério, é revelar os «segredos de Deus».

Porque todos nós «...somos ministros e dispenseiros dos mistérios de Deus» (I Coríntios 4:1)

Cristo através de nós como? Na prática do amor. Conhecer não chega. Dizer não basta.

«Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos...», «Ainda que eu conhecesse todos os mistérios e toda a ciência... e não tivesse amor, nada seria» ! (I Coríntios 13:1-2).

Aqui se situa o Evangelho das Obras, o cristianismo prático:

Olhar para o Cristo que vai ao encontro das necessidades globais dos que O rodeiam, se identifica com eles, liberta os oprimidos, cura os enfermos, alimenta os famintos, alegra os abatidos, convive com os marginais, demarca-se dos religiosos legalistas, desumanos, preconceituosos, e apresenta-se como um homem simples a favor de todos os demais.

Às vezes considerado anarquista, irreverente, promíscuo nos seus relacionamentos sem barreiras, infractor da lei, homem «de todo o terreno», e nomeadamente ao lado dos desprotegidos, dos pobres e desprezados, das vítimas de exclusão social. Disponível para todos, enfim, sem qualquer excepção!

Em suma:

Cristo connosco – Deus caminhando sobre a terra em forma humana. Aquele que sendo Deus tomou a forma de homem, num acto de suprema humilhação e renúncia por amor!

Connosco sim: ao lado dos homens, vivendo para eles, morrendo por eles, ressuscitando e subindo ao Céu para a redenção da Humanidade. Jesus, alegria dos Homens! Caminho, Verdade e Vida! - Mistério revelado.

Cristo em nós: em qualquer pessoa, judeu ou gentio (e podíamos acrescentar: preto ou branco, mulher ou homem, letrado ou analfabeto, heterossexual ou homossexual, pobre ou rico, de esquerda ou de direita, etc.).

Quando Jesus é recebido pela fé, por quemquer que seja, Ele transforma a vida, Ele guia, Ele dá vitória! - Mistério revelado

Cristo através de nós: comunicando-Se pela nossa boca, utilizando os nossos pés, a nossa voz, os nossos bens, servindo-Se da nossa casa, dos nossas capacidades, e sobretudo do nosso coração a transbordar do Seu amor ao próximo. - Mistério revelado

Bendito seja o Senhor que assim se nos dá a conhecer!

Porque, afinal, o que é a vida eterna?

É conhecer a Deus, numa relação íntima, comparável à relação conjugal: «A vida eterna é esta: que te conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste». (João 17: 3)

Bendito seja o Senhor, sim, bendito seja!

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 28/08/2006
Código do texto: T226914