CONGREGAR

Ainda na década de 90 do segundo milênio, e mesmo antes de o padre Marcelo Rossi gravar a composição de Elizeu Gomes, intitulada: “Anjos de Deus”, uma amiga ouviu a música numa rádio evangélica, gostou, copiou e nos transmitiu letra e melodia...

Examinei. Fiz algumas alterações e modifiquei a frase: “a igreja CONGREGA”, por entender que esta expressão tipicamente evangélica, não se harmonizava com a linguagem católica.

Submeti a nova redação à mesma pessoa que me passara o cântico. Ela leu, tentou cantar e sentiu que a mudança tirara a espiritualidade da mensagem original: unir católicos e evangélicos em um só canto, em um só coração — CONGREGAR.

Por fim, olhou bem em meus olhos e disse-me sem rodeio: “Não tente modificar a inspiração do Espírito Santo...”

Guardei essas coisas em meu coração e... mais tarde, meses depois, outra música sacra conduziu muitas pessoas ao aconchego do colo da Mãe:

“Consagração à Nossa Senhora” (Fátima Gabrielli)

Ó minha Senhora e também minha Mãe

Eu me ofereço inteiramente todo a Vós

E em prova da minha devoção

Eu hoje vos dou meu coração.

Consagro a Vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca.

Tudo o que sou, desejo que a Vós pertença.

Incomparável Mãe, guardai-me, defendei-me

Como coisa e propriedade Vossa. Amém.

A música multiplicou o número de devotos à Maria e ao mesmo tempo, dividiu o coro. O Ministério cantava: “Como coisa e propriedade Vossa. Amém”. Parte da assembléia acompanhava: Como coisa e propriedade..., outra parte, como filho e propriedade vossa...

Certo sacerdote não penetrou na espiritualidade da coisa. Não entendeu que ser uma COISA no coração de Deus é superior a qualquer realidade humana. Interrompeu o cântico e determinou que se cantasse: como filho ou filha e propriedade vossa...

Ora! COISA é um bem de valor, aquilo que se guarda e defende como propriedade, senão, o Código Civil (brasileiro) não teria destinado tantos capítulos sobre a matéria.

Naturalmente, a palavra COISA tem muitos sentidos e não vamos listar todos, mas somente, e apenas aquele que está no contexto da música, se comparado com a definição de Aurélio: Aquilo que existe ou pode existir...Realidade, fato...E o plural COISAS: Bens, propriedades, valores...

Sem dúvida, o que se consagra ali no lugar de COISA é a realidade humana, toda a fragilidade humana: olhos, ouvidas, boca...enfim, a vida...

Que Maria guarde todas essas coisas em seu coração.

Que meus olhos vejam...que meus ouvidos ouçam...que minha boca proclame as maravilhas do Senhor.

Eu quero ser qualquer COISA...mas qualquer COISA nas mãos e no colo de Deus.