UM OLHAR... CONTRA VENENOS

«Olhem para as aves do céu…»

«Olhem para os lírios do campo…»

(Mateus 6,25-32)

- Jesus está a falar de quê? - Da vida! Da nossa vida

Ele é o Mestre. Ele quer ensinar-nos a Viver.

- Nós dizemos muitas vezes: «Tenho vida. Tenho a vida eterna!» Mas... nem sempre vivemos. Andamos por cá, mas andamos preocupados, inquietos, agitados.

- Foi disto que Jesus falou quando disse: “Não andem preocupados!” (ansiosos)

- Ele referiu-se a elementos corrosivos, perturbadores.

Porque a angústia, o nervosismo... são venenos que matam, ou vão matando.

- O que nos aconselha Jesus? - Olhem!

Olhem? Mas nós não somos cegos!!!

E olhar será apenas ver?

Olhar é «ver atentamente», reparar, contemplar.

- Mas contemplar o quê? - As aves do céu, os lírios do campo... A Natureza, o outro Evangelho, que nos fala da glória de Deus, do Seu cuidado, do Seu amor, da Sua paz!

- Olhem! Este olhar é o antídoto contra o stress que nos desgasta e esmaga tantas vezes. Sim, porque há venenos

que nos destroem lentamente. E ficamos deprimidos, melancólicos, apáticos, com vontade de largar tudo e fugir,

desistir de viver!

Um dos tais venenos que nos matam é aquilo a que podemos chamar “o império e a obsessão das coisas materiais".

Movemo-nos e existimos numa sociedade de consumo que nos molda e nos “consome”!

Trata-se da ultra civilizada sociedade ocidental, a sociedade dos objectos físicos, das coisas. Isto é, uma sociedade coisificada e coisificante. Ela inventa para nós necessidades novas para nos vencer os seus produtos, úteis alguns mas a maioria deles supérfluos. E a publicidade (essa ditadura subtil das nossas democracias, essa ditadura com um sorriso “de marca”) alicia-nos a toda a hora. A publicidade propõe-nos (ou impõe-nos?!) o quê? - Aquisições!

É preciso vender! Logo, é preciso comprar!

E os objectos pressionam-nos, dominam-nos, escravizam-nos...

causam-nos preocupações! Envenenamo-nos!

O que disse Jesus? – “Por que hão-de vocês andar preocupados por causa da roupa?”

Mas, dir-se-á, é preciso comprar roupa. Novos modelos. A moda faz exigências!

Roupa e não só. Aparelhos, cosméticos, produtos anunciados nos cartazes, nos prospectos, nos catálogos, nos anúncios televisivos, etc..

Frequentemente ouvimos dizer (ou dizemos!): “Mas que desgosto, partiu-se aquele precioso jarrão de cristal!

“Ai que perdi o meu relógio marca tal, caríssimo!”

“Ai que lá se foi a minha caneta de luxo!”

E, ao mesmo tempo, há tanta gente sofrendo, corações “partidos”... a que somos indiferentes!

Será que o mais importante são as coisas? Os bibelôs?

Os objectos... geradores de conflitos. Objectos que nos comandam.

Temos de ganhar mais dinheiro. Muito dinheiro! Para termos muitas coisas. Para consumirmos muitos produtos!

Ganhar, possuir... o velho e tão actual materialismo.

E entramos na chamada “luta da vida” a contra-relógio. Outro veneno: uma vida a correr!

Vive-se em grande velocidade, vertiginosamente! Não há tempo para nada. Ou melhor: não há tempo para o que é mais importante!

Somos uma espécie de motores com o acelerador ao fundo!

A nossa sociedade, que se reclama de defensora dos direitos humanos, diz-se livre mas é alienada e alienatória! Diz-se civilizada mas é desumana e desumanizante!

Porque... vivemos em casas onde não entra o Sol. Casas bloqueadas, rodeadas por torres, arranha-céus. E sentimo-nos dentro das grades duma prisão!

Porque... temos de deslocar-nos a correr e esperar o transporte colectivo. Ou, se vamos de carro, talvez tenhamos de suportar um engarrafamento: nervos em pilha, apitar, praguejar!

E estacionamento? Não há. Pague a multa!

E continuamos a correr, sempre a correr.

- “Ah, desta vez escapei! Toca a fugir...” Fugir para o trabalho!

Mas... é um trabalho agradável? Que se faz com gosto? Que dá prazer?... Ou é um fardo, um martírio que tem de se suportar... só por causa do salário???

Hoje, o trabalho é, cada vez mais, o quê?

- Produção em série.

- Cumprir programas que não nos dizem nada.

- Realizar mecanicamente, repetitivamente, rotineiramente... até à náusea, ao tédio, à loucura!

- O trabalho é... ter de fazer por encomenda, haja ou não haja inspiração.

Ter de sorrir mesmo quando não há disposição!

E depois? Depois de um dia fora... as crianças no infantário, horários desencontrados, família dispersa... À noite, fatigados, encontram-se, exaustos... À mesa???? É duvidoso!

Talvez só se encontrem em frente da televisão... Mas não há convívio!

Mais uma vez, é o objecto que domina! O aparelho, a caixa mágica como lhe chamam!

Acabou-se a comunicação entre as pessoas. Não há conversa, ninguém quer saber de ninguém... a não ser das personagens das novelas e das séries televisivas....

Convívio, não! Conflito, sim, muitas vezes!

- “Cala-te lá! Deixa-me ouvir!”

- “Eu quero o outro canal!” - “Mas eu quero este!”

- “Já estou farto! Vou-me deitar!”

Farto! Saturado! Cansado... e aborrecido com o outro!

Realmente falta alguma coisa, não falta?

O que é que falta? (falta olhar!) Olhar para onde, para quê? (Para as aves e para os lírios! Para os campos e para os céus!)

Olhar para o que é simples e natural.

Para o ritmo daquilo que Deus criou e que o Homem ainda não conseguiu estragar!

OLHEM! – diz-nos Jesus!

Parem para contemplar. O quê?

- A serenidade bela.

- A simplicidade bela.

- A naturalidade bela.

Tanta beleza!

Parem para VIVER!

Viver é voltar a Deus, à Natureza, aos pequenos grupos, ao contacto entre as pessoas.

Viver é voltar ao Sol, ao mar, à água pura, voltar a caminhar a pé, a respirar ar puro, voltar aos alimentos frugais, ao trabalho criativo!

Voltar, retroceder... para poder avançar!

Temos muito que aprender com os ditos “menos evoluídos”, com os rurais, com os africanos, os asiáticos...

A revolução industrial e as estruturas sociais do Ocidente estão podres e apodrecem-nos. Massificam, desumanizam, Esmagam-nos!

(Já o apóstolo Paulo aconselhava: “Não vos conformeis com este mundo...”)

Mas como? Haverá uma saída?

Sim, a saída é Cristo!

Cristo veio libertar-nos! A Palavra de Deus veio ao mundo, fez-se carne, fez-se Homem. E quem nos liberta é Ele: o Cristo carinhoso, alegre, amigo. Mas também o Cristo marginal, o Cristo não religioso, o Cristo contundente, controverso, subversivo.

E por isso odiado pelos pietistas “virtuosos”, odiado pelos conservadores das tradições obsoletas, odiado pelos intransigentes fundamentalistas, odiado pelos legalistas, todos eles mais ou menos sectários e hipócritas.

Cristo veio libertar-nos! Veio ensinar-nos a viver! Dar-nos uma nova vida!

Mas para isso é preciso olhar. Olhar para os passarinhos, para os lírios do campo... Olhar com os olhos de Jesus!

E sobretudo... OLHAR PARA JESUS! (Hebreus 12,2)

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 02/09/2006
Código do texto: T230774