Perdoar --- Punir
Devemos perdoar mas aplicar as consequências que a lei humana preveja para o caso, tanto quanto ocorrerá por via da causalidade cármica. Devemos aplicar a lei humana, com todos os seus eventuais defeitos, porque não aplicar o Direito equivaleria ao abandono de um dos aspectos em que se sustenta nossa sociedade, imperfeita sem dúvida, mas que necessita do ordenamento jurídico.
É por isso não podemos tomar a justiça em nossas mãos. Quem julga não é a vítima ou seus parentes. Quem julga é um homem (com todos os defeitos da condição humana) que não tem relação emocional com o caso (sob pena de nulidade do processo). Assim, perdoar e punir são fenômenos que devem ocorrer concomitantemente. A vítima perdoa; o Estado julga.
No que tange ao "dai a Cesar o que é de Cesar", apesar de todas as ilações elevadas que se possa daí retirar, na verdade corresponde a uma armadilha que o Sinédrio havia criado para prejudicar Jesus em suas pregações. Foi perguntado ao Mestre, em praça pública, acerca dos pesados tributos que os judeus tinham que pagar a Roma. Uma resposta menos inteligente levaria o Mestre à arapuca assim armada, abreviando o enfrentamento diante da autoridade civil constituída - a tirania romana.
O perdão é um fenômeno interno, da alma. A consequência do ato danoso é uma consequência objetiva do mundo --- no caso do mundo humano, a punição que a lei estipule; no caso do Mundo, a causalidade cármica.
Perdão não implica em imunidade penal nem em isenção cármica. O perdão existe para a vítima e para o algoz, na relação entre eles e não em face da Vida, da evolução.
A Lei do Talião, segundo o Livro dos Espíritos, é a Lei de Deus, que só Deus pode aplicar. Ou seja, ela existe.
764. Jesus disse: “Quem matar pela espada perecerá pela espada”. Essas palavras não representam a consagração da pena de talião? E a morte imposta ao assassino não é a aplicação dessa pena?
– Tornai tento! Estais equivocados quanto a estas palavras, como sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus; é ele quem a aplica. Todos vós sofreis a cada instante essa pena, porque saís punidos naquilo em que pecais, nesta vida ou noutra. Aquele que fez sofrer o seu semelhante estará numa situação em que sofrerá o mesmo. É este o sentido das palavras de Jesus. Pois não vos disse também: “Perdoai aos vossos inimigos”? E não vos ensinou a pedir a Deus que perdoe as vossas ofensas da maneira que perdoastes, ou seja, na mesma proporção em que houverdes perdoado. Compreendei bem isso.
(Livro dos Espíritos)