O PAPEL DA LEI NA GRAÇA

Desde seu início, A Bíblia esclarece que todo o processo de salvação se dá pela graça. Os crentes do Antigo Testamento esperavam ansiosos pelo Cristo que viria a seu tempo. No Novo Testamento já pudemos contemplar o Cristo que veio. Aqueles crentes eram salvos pela graça que estava por vir. Nós, porém, somos salvos pela graça que já veio.

No tempo deles, entretanto, a graça que estava por vir não anulava a lei, tanto é que tinham que cumpriam-na, como está registrado no Antigo Testamento. E em nosso tempo, a graça já vinda anula a lei?

Se tudo acontece pela graça, qual é, portanto, o papel da lei de Deus? O apóstolo Paulo esclarece: “É mediante a lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado.” – Romanos 3:20. Se uma pessoa não toma conhecimento da lei, também não reconhece a existência do pecado. Não havendo pecado, também não há necessidade de graça para salvação.

Deus faz-nos saber o que é pecado através de Sua lei. O papel da lei é definir o pecado. Ela não foi criada para que passasse a existir o pecado (para tornar algum de nossas atitudes pecado), mas para definir quais ações são e quais não são pecado. A lei diz: “Esta ação é correta e esta ação é errada.” Ela define o padrão moral que servirá de critério para o julgamento de Deus. Estabelece os valores para a sociedade em geral.

O julgamento convida a homens e mulheres de todas as partes a se voltarem para a lei. Ela convida os cristãos que já estão salvos a serem obedientes, viver de forma justa e santa.

Qual é o papel da graça? “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras para que ninguém se glorie”. – Efésios 2:8-9. A graça consiste unicamente na misericórdia e perdão do Senhor. A graça é o poder vindo do alto. É o amor de Deus a alcançar os pecadores. E então a graça extingue a necessidade da lei de Deus?

Diante disso, indagou o apóstolo Paulo: “Anulamos então a lei pela fé? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a lei”. – Romanos 3:31. Aí o apóstolo declara que não devemos pensar que podemos eliminar a lei com a graça. Ao contrário disso, com a graça nós a estabelecemos e guardamos. Quem é salvo pela graça sente logo o desejo de viver de forma obediente, harmonizando-se com a vontade de Deus.

“Muitos anos atrás eu estava apresentando uma série de palestras sobre as profecias bíblicas na costa leste dos Estados Unidos.”

Assim o pastor Mark Finley dá início a sua narrativa no livro Tempo de Esperança, nas páginas 22 e 23. E prossegue dizendo:

“Certa noite, depois da apresentação, tinha pressa em chegar ao meu compromisso seguinte. Então estava dirigindo rápido demais. O limite de velocidade era noventa quilômetros por hora. Eu estava provavelmente indo a cento e dez. Um policial me parou e solicitou minha habilitação de motorista. Entreguei minha licença pastoral. O policial sorriu.

Conversamos um pouquinho, então eu disse algo do tipo:

¬- Para falar a verdade, acabei de sair do auditório cívico, onde estava pregando sobre a lei. Eu estava falando para as pessoas que devem cumprir a lei. Então, será que você pode me conceder a graça esta única vez? Eu e você estamos no mesmo time. Você pega as pessoas depois que elas quebram a lei e eu digo para cumprirem a lei. Faço com que você trabalhe menos. Então, por favor, será que você pode me conceder graça esta única vez?

Com um sorriso atravessado, o policial disse:

- Tudo bem, pregador. Pode ir, mas cumpra a lei!”

“Quando descumpri a lei, o que eu merecia?” Indaga o pastor Finley. “Uma multa por excesso de velocidade. Isso mesmo! Quando recebi o perdão, isso me liberou da condenação da lei? Sim. Mas o perdão me liberou da jurisdição da lei? Absolutamente não. Você acha que eu voltei para o carro e disse para minha esposa: ’Querida, eu não estou debaixo da lei. Estou debaixo da graça. Por isso, posso dirigir na velocidade que eu quiser?’ Você acha que saí a cento e quarenta por hora porque estava sob a graça do policial? Claro que não.

O que aconteceu? Eu estava, a partir daquele momento, sob a graça. Por isso, fui extremamente cuidadoso para não quebrar a lei. Como Jesus me salvou por meio da graça, não desejo descumprir a lei. Não vou dar as costas aos Seus mandamentos.”

Ao ser salvo pela graça, não se está sob a condenação da lei. Cristo esclareceu: “Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir”. - Mateus 5:17. Jesus não veio para extinguir a lei. Ele não veio para acabar com o mandamento que diz: “Honra teu pai e tua mãe”. – Êxodo 20:12. Do contrário, veio para ser o modelo de como um filho amoroso deve tratar seus pais. Ele também não veio eliminar o sexto mandamento que diz: “Não matarás”. – Verso 13. Veio sim para que todos os que com Ele tivessem contato soubessem o que é bondade e compaixão. E de nenhuma forma Cristo veio para eliminar o mandamento de número sete que diz: “Não adulterarás”. – Verso 14. Veio, porém, para ser modelo de pureza.

Muito menos o Salvador veio para excluir o quarto mandamento, o qual diz: “Lembra-te do dia de sábado (...).” – Verso 8. É por isso que na Bíblia está escrito: “E no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume”. – Lucas 4:16.

Da mesma forma que Cristo não veio abolir os Dez Mandamentos, ele também não veio para abolir o quarto mandamento, que trata da santificação do sábado. O contrário é que é verdade. Cristo veio viver uma vida de amável obediência, de modo a exaltar a lei de Deus. O mandamento referente ao sábado foi posto no centro dos Dez por uma importante razão. Os quatro primeiros mandamentos dizem respeito ao relacionamento que temos com Deus. Os seis seguintes dizem respeito a nossa vivência com o próximo. O mandamento relativo ao sábado, que chama-nos para a adoração ao Criador, é a base fundamental para toda obediência.

O mandamento do sábado esclarece a base da autoridade moral de Deus em dar-nos os Dez Mandamentos. Sendo que Ele nos criou, com Criador, sabe muito bem o que é melhor para Suas criaturas. Os Dez Mandamentos são normas de bom funcionamento da vida e essas normas foram pensadas e redigidas pelo próprio amoroso Criador. Reconhecer Suas qualidades de Criador no sábado é a base para essa obediência.

Grande parte dos cristãos, para não dizer a maioria, vive grande confusão quanto a ralação entre a lei e a graça. Esclareceu o apóstolo Paulo: “Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça”. – Romanos 6:14. O pecado tem domínio sobre as pessoas quando elas seguem o próprio rumo, em vez de seguir o rumo estipulado por Deus através de Sua lei. Ao quebrar-se a lei de Deus, segue-se o próprio rumo e então o pecado escraviza.

Quando se está sob a dependência da lei como meio para a salvação, se está debaixo da lei. Pretender guardar a lei com esforço humano equivale a tentar chegar a nado ao outro lado do Atlântico. Mesmo para nadadores olímpicos e até mesmo para campeões mundiais a distância é inatingível. Por mais duro que tentemos, não conseguiremos guardar a lei do Senhor com recursos humanos. Se empreendermos guardar a lei para salvar-nos, as tentativas infrutíferas nos frustrarão continuamente. Nos vermos como condenados continuamente. Mas com Jesus como fonte de salvação a realidade é completamente diferente.

Aceitar e receber o perdão de Cristo, ficando repleto de Seu poder é estar sob a graça. Nessa circunstância, Cristo terá escrito a lei no coração e na mente do crente que por isto ele deseja obedecê-lO.

Claramente a Bíblia diz que ao irmos a Jesus e nos lançamos sob Sua misericórdia, Ele diz: “Meu filho, não importa aquilo que você fez no passado, eu o perdôo. Você pode começar outra vez”. Portanto, a lei expõe nossa necessidade, bem como a dádiva de Deus.

Ao contemplar a lei do Senhor me dou conta de quem sou. Não me é possível alcançar os padrões morais de Deus. Olhando para a lei, percebo meus momentos de impaciências; situações que não fui gentil tanto quanto precisa ter sido. A falha em cumprir a lei de Deus, me impulsiona a buscar Sua graça. A lei me leva a Jesus e a Ele digo: “Cristo, meu coração está em pedaços. Vejo-me esmagado por meu pecado. Por favor, perdoa-me. Tira minha culpa. Conduze-me, querido Senhor, no caminho da obediência a tua lei. Ajuda-me a ser obediente.”

Certo dia um líder religioso indagou de Cristo qual o maior mandamento da lei. Em resposta Jesus disse: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ame o seu próximo como a si mesmo”. – Mateus 22:36-39. Nessas palavras Jesus resumiu os Dez Mandamentos. E prosseguiu: “Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os profetas.” – Verso 40.

A lei completa pode ser condensada na palavra amor. Jesus condensou os quatros primeiros mandamentos no amor a Deus e os outros seis no amor ao próximo. Ele diz que se amarmos plenamente, amaremos a Deus e ao semelhante, cumprindo então Seus Mandamentos no trato para com Deus e para com o próximo.

Este artigo teve como base o texto O papel da Lei e da graça publicado por Mark Finley no livro Tempo de Esperança, páginas 22, 23, 24 e 25, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, 2009.

Wilson do Amaral

Autor de Os Meninos da Guerra, 2003 e 2004, e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, 2004.