A influência dessa força chamada Deus na minha vida.

Através da minha saudosa avó que me fez conhecer a bíblia e forçadamente estudá-la, um dia li um determinado capitulo em que descrevia uma reunião de Jesus e seus discípulos na qual ele disse: Não vos esqueçais de que o mundo já existia muito tempo antes do vosso nascimento, e que ele há de existir muito tempo depois de vós, e assim sabei que a vossa vida terrestre dura apenas um dia e vossos sofrimentos apenas uma hora. Não vivais, pois, com a morte, e sim com a vida. Lembrai-vos de minha palavra, que é ter fé, amar e praticar boas obras. Pois bem aventurados aqueles que serão salvos pela crença nessa palavra.

E após ter lido muito sobre outras religiões e viver no cristianismo até hoje, sinto que ainda existe muito a ser decifrado nas escrituras, e muito a ser modificado em relação a nossa crença, fé e principalmente dentro da igreja católica.

O que me decepciona e preocupa são alguns representantes e mensageiros do salvador. Eles se venderam por completo à idéia do materialismo. Como é que se vai provar a existência do reino dos céus aqui na terra, se os próprios guardiões desse reino idolatram a riqueza, o sucesso, o poder? O que também me desanima é a dificuldade dos nossos clérigos não conseguiram reinterpretar, modernizar, tornar útil uma fé que nasceu na antiguidade. Tomaram pouco conhecimento das revoluções sociais, de comunicações instantâneas. Neste mundo novo em que o cosmo torna-se um fato visto pela televisão, em que a morte se transforma numa certeza biológica.

Eu até vejo que tem havido uma renovação de interesse pela religião por parte da juventude nestes últimos anos. Milhares e milhares de filhos de Jesus, de fanáticos de Jesus, empolgados pela velha figura familiar paterna, pelas suas idéias sobre o amor e a fraternidade. E todas músicas, discos, livros, jornais, todos festejando Cristo. Mas isso não me parece promissor, dá impressão de que os jovens, alguns pelo menos descobriram uma nova atração. Mas de curta duração, temo eu. Porque esse tipo de viagem é para trás, no tempo, em busca de paz numa relíquia nostálgica, em vez de perceberem que a relíquia está modernizada, e transportada do passado para os tempos atuais. A viagem deles não tem nada que ver com a fé em longo prazo. Esse Cristo deles é um Beatle, um Che Guevara, é preciso que surja um Cristo mais duradouro e uma igreja melhor.

E por tudo que leio, ouço e vejo me induz a tomar uma atitude em relação a minha fé. E, no entanto a sensação que me domina, nada tem a ver com religião no sentido estrito ou ortodoxo do termo. Sinto que não era a religião que me dominava. Antes uma crença, uma força difícil de ser definida. É como se eu tivesse descoberto que o sentido da vida, e meta, não fosse apenas o nada. Pelo contrário está surgindo em mim essa crença de que a minha vida, como a de todos os homens, fora criada com algum propósito, como um objetivo mais amplo.

Estou adquirindo a consciência de uma continuidade, de minha conexão com o passado em que, de certo modo, eu vivera anteriormente e com um futuro em que continuarei sempre vivo, indefinidamente, através de seres mortais que desconheço, mas que, como eu vim a nascer, estou perpetuando a minha existência por toda a eternidade. E de que minha passagem pela terra possa ter um significado. Não só para mim como também para aqueles com quem me relaciono ou entro em contato na vida. Em suma, não me encontro no mundo por mero acaso ou circunstâncias fortuitas.

Atualmente eu me pego vivendo em memórias antigas, despojadas de lendas, revivendo um homem, e não um sopro sobrenatural do céu, talvez não o caminhante sobre as águas, nem o ressuscitador dos mortos, ou o filho de Deus, mas o filho de todos os homens em todos os tempos, que conhecia o sofrimento e a alegria, e que pregava a bondade, a compreensão, o companheirismo, e investia contra a crueldade, a hipocrisia e a ganância.