Deus, onde estás?

"Eliseu perguntou: Onde está agora o Senhor...?" (II Livro do Reis, 2,14)

A experiência vivenciada por Eliseu retrata bem o questionamento que nos vem quando enfrentamos certas circunstâncias que a vida nos coloca e que só são explicáveis do ponto-de-vista da fé em Deus, cujos pensamentos são mais elevados do que os nossos. Cansados, perguntamos “Onde está Deus?” É muito instrutivo, e curioso, que Deus não tenha dado a Eliseu uma resposta objetiva do tipo “estou aqui”, como era de se esperar.

Diante de fatos dolorosos quase sempre somos tentados a buscar explicações razoáveis, que façam sentido e possam reorganizar nosso caos existencial. Porém, nem sempre é fácil encontrar respostas que satisfaçam nossas dramáticas interrogações. Há momentos em que o gigantismo dos problemas nos convida ao silêncio e às lágrimas. Essa atitude autêntica foi assumida por Zofar, Bildade e Elifaz, amigos de Jó, quando tiveram o primeiro contato com Jó em meio à sua tremenda crise pessoal (cf. Jó 2:12,13). Eles perceberam que, naquele momento, as palavras eram insuficientes para transmitir qualquer consolo. Ao se encontrarem com Jó eles “começaram a chorar em alta voz”, se humilharam diante de Deus e ”se assentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma palavra, pois viam como era grande o seu sofrimento.”. Sabiamente esses homens perceberam que aquele era o “tempo de calar” (Ec 3:7). Apesar de terem estragado tudo posteriormente lançando uma enxurrada de julgamentos e críticas impiedosas sobre Jó.

Como cristãos somos tentados a ter respostas prontas para toda e qualquer situação. Quase sempre estamos prontos a “sacar” de nossa aljava um contundente Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8:28) para ajudar a explicar ou justificar o sofrimento de alguém. Mas, como podemos querer dar uma resposta para alguém se o próprio Deus resolveu se calar?

Neste momento, certamente, há muitas pessoas atravessando situações de extremo sofrimento que, certamente, estão se perguntando: “Onde está Deus? Creio que este é um tempo para, junto deles, nos sentarmos e chorarmos (cf. Salmo 137:2) apresentando o lamento angustiado e submisso diante do Pai (cf. Mc 14:33-36), sem querermos dar respostas artificiais geradas por nossas próprias ansiedades. Uma presença solidária e amorosa nesses momentos é uma atitude muito mais significativa do que mil palavras, por mais eloqüentes e “bíblicas” que sejam.